DISCOS
The Neon Road
Am I Welcome Here
· 29 Mai 2003 · 08:00 ·
The Neon Road
Am I Welcome Here
2003
Bor Land


Sítios oficiais:
- Bor Land
The Neon Road
Am I Welcome Here
2003
Bor Land


Sítios oficiais:
- Bor Land
Tal como a imagem da capa de «Am I Welcome Here», o projecto The Neon Road revela-se-nos como um objecto anónimo que se esconde por detrás da neblina, perguntando, timidamente, se pode entrar.

A informação acessível relativa ao projecto traduz-se em poucas linhas e tal situação aparenta ser intencional. Sabemos, assim, que The Neon Road é uma ideia exclusiva de Sandy Kilpatrick, antigo vocalista do projecto de Manchester Sleepwalker, que se fixou em Braga há cerca de dois anos para desenvolver este novo projecto.

No presente single, «Am I Welcome Here», que antecipa o álbum de estreia, Kilpatrick contou com a colaboração do projecto bracarense Wave Simulator, de Benjamin Brejon (dos franceses Mecanosphère), do pianista Miguel Pires e de Ana Figueiras.

Ao abrir o pequeno livro de sons delicados que The Neon Road nos preparou, começamos, com maior nitidez, a ter acesso ao rosto desfocado da capa e, de uma forma mais ampla, à mente de Kilpatrick. E, facilmente, nos apercebemos que quem trabalha assim não é mudo e que a música que nos presenteia é, na sua essência, honesta e fruto de uma longa experiência.

Dentre do lote dos três temas que compõem o single, «Where The Sunlight Hides» será, porventura, o capítulo mais interessante e comovente do todo. É, na sua estrutura, um irmão gémeo de um qualquer tema dos Sigur Rós tocado ao piano. Não que isso seja algo de necessariamente bom, mas é impossível resistir a uma tão doce e triste melodia como esta. Diria, certamente, que a culpa é mesmo do piano.

De súbito, e depois da tristeza e da beleza do primeiro capítulo, «Astral Radical» traz-nos a melancolia. Começamos, assim, a compreender de que material e de que sentimentos é combinado o universo de «Am I Welcome Here». Desta vez não há piano. Há, antes, uma voz arrastada e uma guitarra lacrimosa que se apaixonam, na noite, e constituem o par perfeito durante breves minutos.

A encerrar o curto livro de apresentações, The Neon Road recua no tempo e revela-nos uma imagem épica de como seriam os James se apostassem no experimentalismo sónico, no momento menos conseguido do single, o tema título.

Certamente que, terminados os quase treze minutos de música deste delicado e tímido single, a resposta a «Am I Welcome Here» é, claramente, um sim com um sorriso de orelha a orelha. E porquê? Porque apesar de não ser inovador de todo, The Neon Road é um projecto consistente e bem trabalhado e merece uma, duas ou mais oportunidades. Estamos no campo de um «savoir-faire» que não merece ser ignorado.

Não há dúvidas da minha parte. O universo artístico nacional necessita de pequenas preciosidades como «Am I Welcome Here» para respirar ar fresco e para se manter vivo.
Tiago Carvalho
tcarvalho@esec.pt

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