DISCOS
Joanna Newsom
Have One On Me
· 26 Abr 2010 · 11:50 ·
Joanna Newsom
Have One On Me
2010
Drag City / Flur
Sítios oficiais:
- Joanna Newsom
- Drag City
- Flur
Have One On Me
2010
Drag City / Flur
Sítios oficiais:
- Joanna Newsom
- Drag City
- Flur
Joanna Newsom
Have One On Me
2010
Drag City / Flur
Sítios oficiais:
- Joanna Newsom
- Drag City
- Flur
Have One On Me
2010
Drag City / Flur
Sítios oficiais:
- Joanna Newsom
- Drag City
- Flur
Mantém a harpa, descobre o piano. Sai Van Dyke Parks, entra Ryan Francesconi. Sai um disco de 18 músicas a seguir a um de 5. Não sai nenhum do enorme talento.
Por esta altura, talvez já muito boa gente ande a pensar no que é que Joanna Newsom pode inventar para o seu quarto disco. Teria sido tão fácil avançar a carreira gravando sucedâneos de "Inflammatory Writ", e tocar para os mesmos que agora descobriram que Devendra Banhart até grava umas canções folk-rock clássicas "bonitas" e "agradáveis". E raispartam aqueles gajos barulhentos que tocaram na primeira parte da Aula Magna. Pois Joanna Newsom sucedeu The Milk-Eyed Mender com um disco de 5 canções longuíssimas. E seguiu agora Ys com um disco triplo, de 2 horas de duração. É com essas linhas que ela se cose (na pele, porque roupa não há muita no booklet), e as suas mãos mostram mais habilidade do que simplesmente acertar na corda certa da harpa, ou tecla certa do piano. Have One On Me, ouvido às pinguinhas ou de uma vez, tem fôlego para livrar o céu dos pólens primaveris até o ano que vem, confirmando - ainda mais - um talento de escrita de canções que não tem qualquer paralelo nos dias de hoje. Newsom fez um discurso de 2 horas em que nenhum momento parece supérfluo.
A banda que Newsom e Ryan Francesconi puseram de pé, e que inclui Neal Morgan, excelente baterista que acompanhou Bill Callahan (ex-namorado de Newsom) em Santa Maria da Feira, cede o palco à artista principal na maior parte do tempo, deixando ouvir a sua instrumentação diversa (sopros, violinos, violoncelos, e até harpsicórdios e violas da gamba) em pequenas doses, que são suficientes para que tenhamos a certeza que Van Dyke Parks foi bem substituído após o excelente trabalho em Ys. O espaço nunca fica atulhado. Tudo trabalha a favor da canção, seja a sublinhar as frases de Newsom, seja num curto interlúdio, seja na marcha para o fim da dita canção. Não chamam atenção para si. São, no fundo, ponteiros laser a incidir sobre as frases e melodias de Joanna Newsom. Enfim, não é preciso nenhum grande rebuscanço para dizer qual é o principal segredo desta cantora-compositora. Ela limita-se a não perder o pé por nenhum momento. Mesmo que seja só ela e a harpa ou piano por minutos a fio. Cada frase de cada estrofe de cada verso é um trabalho melódico de primeira qualidade. Cada ligação tem a inflexão adequada ao manter do encantamento. Toda a música, por mais longa que seja, é um refrão. Sabe-se que o power-pop, a maior parte das vezes, é muito irritante. Talvez Joanna Newsom tenha inventado o seu primo distante, e muito mais bem-vindo, o power-prog-folk.
Falta falar das letras. Outro factor que leva Newsom mais longe que os seus "rivais". Have One On Me é riquíssimo em vocabulário, imagética e alusões para representar o sentimento que acompanha aquilo que tudo indica ser o destroçar de uma relação, a parte em que esta se divide entre a atracção física que resta, e a incapacidade de manter a situação conjugal actual, sempre com a natureza como muleta essencial. Talvez outra razão porque não são precisos refrões. Isto é uma história que precisa avançar, e como tal frases repetidas mais à frente na canção torná-la-iam numa daquelas telenovelas repletas de flashbacks. Este disco merece entrar no panteão das grandes obras sobre esmiúcar de relações falhadas, e colocar Joanna Newsom definitivamente debaixo dos holofotes brilhantes reservados para os grandes songwriters da história. Ah, e não chateiem com a voz dela, que está muito mais contida. Vão reclamar com o Antony.
Nuno ProençaA banda que Newsom e Ryan Francesconi puseram de pé, e que inclui Neal Morgan, excelente baterista que acompanhou Bill Callahan (ex-namorado de Newsom) em Santa Maria da Feira, cede o palco à artista principal na maior parte do tempo, deixando ouvir a sua instrumentação diversa (sopros, violinos, violoncelos, e até harpsicórdios e violas da gamba) em pequenas doses, que são suficientes para que tenhamos a certeza que Van Dyke Parks foi bem substituído após o excelente trabalho em Ys. O espaço nunca fica atulhado. Tudo trabalha a favor da canção, seja a sublinhar as frases de Newsom, seja num curto interlúdio, seja na marcha para o fim da dita canção. Não chamam atenção para si. São, no fundo, ponteiros laser a incidir sobre as frases e melodias de Joanna Newsom. Enfim, não é preciso nenhum grande rebuscanço para dizer qual é o principal segredo desta cantora-compositora. Ela limita-se a não perder o pé por nenhum momento. Mesmo que seja só ela e a harpa ou piano por minutos a fio. Cada frase de cada estrofe de cada verso é um trabalho melódico de primeira qualidade. Cada ligação tem a inflexão adequada ao manter do encantamento. Toda a música, por mais longa que seja, é um refrão. Sabe-se que o power-pop, a maior parte das vezes, é muito irritante. Talvez Joanna Newsom tenha inventado o seu primo distante, e muito mais bem-vindo, o power-prog-folk.
Falta falar das letras. Outro factor que leva Newsom mais longe que os seus "rivais". Have One On Me é riquíssimo em vocabulário, imagética e alusões para representar o sentimento que acompanha aquilo que tudo indica ser o destroçar de uma relação, a parte em que esta se divide entre a atracção física que resta, e a incapacidade de manter a situação conjugal actual, sempre com a natureza como muleta essencial. Talvez outra razão porque não são precisos refrões. Isto é uma história que precisa avançar, e como tal frases repetidas mais à frente na canção torná-la-iam numa daquelas telenovelas repletas de flashbacks. Este disco merece entrar no panteão das grandes obras sobre esmiúcar de relações falhadas, e colocar Joanna Newsom definitivamente debaixo dos holofotes brilhantes reservados para os grandes songwriters da história. Ah, e não chateiem com a voz dela, que está muito mais contida. Vão reclamar com o Antony.
nunoproenca@gmail.com
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