DISCOS
Vibracathedral Orchestra
Joka Baya
· 16 Abr 2010 · 11:59 ·
Vibracathedral Orchestra
Joka Baya
2010
VHF / Flur


Sítios oficiais:
- Vibracathedral Orchestra
- VHF
- Flur
Vibracathedral Orchestra
Joka Baya
2010
VHF / Flur


Sítios oficiais:
- Vibracathedral Orchestra
- VHF
- Flur
Dronando à volta do mundo. Saúde-se o regresso da banda de Neil Campbell e Mick Flower, repleta de explorações e não-riffs tão deliciosos como antes.
Foi com assinalável regozijo que recebi a notícia do regresso dos Vibracathedral Orchestra Às edições discográficas. Por estas alturas, pensava que Neil Campbell andava totalmente dedicado aos Astral Social Club, e que a sua sociedade com Mick Flower já teria cumprido o seu percurso na Terra. E de repente saem TRÊS discos de uma só vez. Na altura das compras, o prémio saiu a este Joka Baya, e é com igual satisfação que me deparo com uns Vibracathedral (soa giro, dizer “Os Vibracathedral”, não soa?) em plena posse das suas capacidades. São em 2010, como já o eram em 2005-6, aquilo a que todo o grupo que queira fazer música de drones de sangue sulfúrico, orgão de chaleira fervilhante, e percussões alfarrabistas de variada proveniência devia aspirar a ser. Passa-se por Joka Baya com vontade permanente de ranger os dentes para imitar o som da guitarra, ou de agarrar num martelo e começar a triturar a parede para que Flower, Campbell e companheiros nos aceitem na trupe.

Falemos, então, na guitarra. Atrever-me-ei a dizer que Mick Flower é um Eddie Hazel (Funkadelic) dos nossos dias. Tal como o lendário amigo de George Clinton, a sua guitarra não sai das colunas. Rasga-as com requintes de malvadez, como se a cena do chuveiro de Psycho durasse 10 minutos, e faz do ar óleo de cozinha a temperatura escaldante. Nesta guitarra e no som das percussões está aquilo que mais distingue os VCO de outros grupos que apostem na tão propalada “atmosfera comunal”. Enquanto alguns soam aborrecidos e indulgentes ao martelarem numa qualquer taça tibetana, os Vibracathedral parecem ameaçar invadir a passo lento a nossa casa, mais zombies de massa encefálica a escorrer da boca do que charrados em piloto automático. O transe aqui não fez desaparecer os instintos humanos mais básicos. Joka Baya torna-nos licantrópicos, quer nos sintamos no deserto de Death Valley, nos moors britânicos, ou nas ruas de Calcutá. Quando atravessamos as paisagens de inspiração indiana, onde a flauta não esconde a corrosão que ataca na parte de trás, temos pouco tempo para falar de exotismos. Há bom ruído a mais.

É pena que, como tantos companheiros de estrada, os Vibracathedral tenham uma discografia tão vasta que só com muito tempo livre para a obter e ouvir se possa ter uma ideia completamente real da sua evolução. Será pena ainda maior se a pausa se voltar a prolongar. Fale-se de transe, fale-se de frituras, fale-se do raio que os parta (sobretudo se forem eles a criá-lo), e estar-se-à longe da experiência total que é escutá-los. Alguns nasceram para fazer exactamente aquilo que fazem, e enquanto Flower e Campbell fizerem drones tudo estará bem nos momentos que dedicarmos à sua escuta.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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