Os Sleeping States são no fundo, um projecto de um homem só, apesar de terem vários músicos a colaborarem no disco e nos concertos ao vivo. Mas sim, é Markland Starkie quem merece os louros, neste seu segundo trabalho depois do EP Old vs. New. Uma personagem DIY cuja voz é um misto agradável de Rufus Wainwright e Edward Droste e por consequência, um pau de dois bicos. Porque é uma voz que nos agarra logo desde o primeiro segundo, mas também imediatamente lhe tira alguma originalidade, o que é pena. Contudo, essa falta é compensada com uma notável capacidade de escrever sublimes momentos pop.

Momentos como “Rings of Saturn�. Poema épico cantado sobre dedadas de baixo que nos levam a paisagens onde facilmente nos perdemos com vontade de nos perder, das dedadas simples ao caos orquestral no fim. Logo a seguir, uns Grizzly Bearicos “The Next Village� e “Showers in Summer�, para depois um tranquilizante “Breathing Space� que serve de passagem para a arrebatadora pérola coral “Gardens of South�.

O intenso “Red King� surge em ritmo “shoegazer�, numa fusão belíssima entre breaks, baixos e guitarras 4AD de noventas com a já descrita voz de Starkie. Rufus “meets� Pale Saints. É talvez a melhor canção do disco. Tudo se acalma a seguir entre duas canções que de forma sonorífera se aproximam dos momentos mais sonolentos de Andrew Bird ou Beirut (curiosamente também eles algo Rufus-alike no que toca à voz). Uma zona baixa num disco que depois acaba em alta, em terrenos outra vez mais 4AD de noventas, com pitadas de sintetizador gélido e tudo, no fenomenal “The Cartographer�. Esta colagem recorrente a sons do hemisfério da editora de Ivo Watts-Russell não é despropositada, ou não fosse o dono da Bella Union, Simon Raymonde, o grande baixista dos Cocteau Twins pós-Garlands. E como Simon deve estar orgulhoso deste belo In The Gardens of The North.