DISCOS
Vex´d
Cloud Seed
· 19 Mar 2010 · 21:05 ·
Vex´d
Cloud Seed
2010
Planet Mu


Sítios oficiais:
- Vex´d
- Planet Mu
Vex´d
Cloud Seed
2010
Planet Mu


Sítios oficiais:
- Vex´d
- Planet Mu
Nada se perde, tudo se recupera.
Há música que não se estraga. E nada como a vitalidade criativa capaz de resistir à erosão do tempo para o comprovar. Só assim se explana que um punhado de temas esculpidos à primeira entre 2006 e 2007 reflictam agora uma aura de invulgar frescura num género ocasionalmente atormentado com a falta de novas realidades estéticas. Já há quatro anos Jamie Teasdale e Roly Porter compreendiam a necessidade do dubstep alargar os seus horizontes para além do campo de acção que lhe era natural, para além do próprio paradigma que o seu álbum de estreia, Degenerate (2005), acidentalmente estabelecia.

O novo Cloud Seed é, como consequência, uma antologia de temas inacabados e remisturas perdidas no tempo; um conjunto de peças soltas equacionadas e estruturadas para serem a verdadeira sequela de Degenerate (não tivesse a vida separado geograficamente os seus autores e a obra "imperfeita" forçada a um lugar na gaveta por tempo indeterminado). Mas como na música nada se perde, tudo se recupera, mérito haja na insistência da Planet Mu para a edição de um álbum com esses temas. Disco que agora vê a luz do dia e que tanto poderá ser encarado como uma saudável despedida ou vincado recado a relembrar a importância estratégica de Vex´d no panorama do dubstep.

Mas Cloud Seed é bem mais que isso. No plano do estudo do som da bass music é um disco – apesar de tudo – coerente que procura novas verdades e que se desafia com inteligência, não se coibindo de lançar violentamente para um tenebroso e soturno vórtice o grime, o dancehall, o dubstep, a pop, a ambient industrial e até o rock. Nada de novo nasce do turbilhão. Mas estimulante neste exercício futurista é concluir que aqui nada é despropositado ou desvirtuado em relação ao ponto de partida assumido em 2005 e que até a introdução de um formato canção é proveitoso nos desígnios, mesmo que os espíritos dos Massive Attack ou dos Sufa Surfers assombrem de forma benigna os cantos mais sujos, poluídos e narcóticos destes pequenos becos sonoros.

Porque é de ruas escuras, travessas enlameadas e humanidade apodrecida pela bagatela dos seus valores que se trata, Cloud Seed é um lugarejo atónito e agónico com nevoeiro rasteiro e denso, onde inesperadas harmonias rompem com sucesso como raios de sol a romper por entre um cerrado manto negro de nuvens. E assim, sem fantasmas de desarranjo, concretizam com curioso e inesperado fulgor – talvez por fruto do mero acaso – o que não conseguiram há 5 anos com o dobro do esforço.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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