Vivemos no séc. XXI. Já estivemos na Lua, já enviamos sondas a Marte, conseguimos em poucos momentos contactar alguém na parte mais longínqua do globo, mas continuamos, estranhamente, a ser regressivos no que à música diz respeito. Muitos continuam a dizer que a música clássica é que é, ignorando mais de um século de actividades noutras áreas musicais. Mesmo assim, outros tantos já assimilaram o Rock, já superaram o susto inicial do Jazz, e colocam-se agora com novos problemas. Que a música electrónica não tem sentido, que não é para ouvir hoje, que temos de esperar ainda mais alguns anos. Muitos chamam-lhe música para o futuro. Mas que futuro, se o que se segue é uma incógnita. É música do presente, porque é feita no presente. E, apreciando-a mais ou menos, temos de conviver com ela.

Opiate. Este nome já lhe deve ter passado pelos ouvidos, e é natural. É tão natural quanto as actividades quase contínuas que Thomas Knak (o homem que se esconde por detrás da assinatura) tem desenvolvido nos últimos anos. E é música electrónica, feita de amostras, ruídos e apanhado de sons. Tal e qual a referida anteriormente.

Como se disse, Thomas Knak tem estado imparável. As colaborações sucedem-se, os discos não quebram, e podemos encontrar o seu nome numa série de recentes lançamentos musicais com dispersão um pouco por toda a Europa. Para além de gerir a sua editora “Hobby Industries” e trabalhar diariamente na rádio estatal dinamarquesa (a completar o arquivo comprando música electrónica), Knak é membro integrante dos Future 3 e System. Colaborou no projecto OPTO File com Alva Noto, e em músicas para Piano Magic, The Tied & Ticled Trio e Bomb The Bass e remisturou um tema dos Giardini di Miró, presente em “The Academic Rise of Falling Drifters”. Para além de tudo isto (e o que fica por dizer), produziu e co-assinou dois temas de “Vespertine” da islandesa Björk (“Undo” e “Cocoon”) .

“Sometimes” é o EP com que Opiate se estreia na Berlinense Morr Music, depois de ter lançado os iniciais “Objects For An Ideal Home” e “While You Were Sleeping” pela dinamarquesa April Records. Musicalmente, este disco é o que se poderia chamar de música contemplativa e distraída, plena de um sentido de urgência sentimentalmente desconexo e desunido. Existem melodias, sons perdidos, o sentimento orgânico da música de todos os dias, e muitos já se decidiram a engrandecer estas características como um género variante da electrónica. As músicas por vezes chegam a aborrecer, dado o pouco atrevimento e a acentuada repetição que chegam a ter. Por outras palavras, é difícil olhar este disco por um lado que não o da experimentação. A música que fecha, “OpiTTT”, segue pelo caminho mais agradável, misturando agradavelmente vozes tímidas, ruídos pouco acentuados e instrumentos orgânicos escondidos por detrás de programações mecânicas. Ao todo são seis canções (que duram pouco mais de 23 minutos), que mostram um Thomas Knank musicalmente seguro, mas apesar de tudo ainda à espera de melhores dias.