DISCOS
Evan Parker Electro-Acoustic Ensemble
The Moment's Energy
· 14 Dez 2009 · 11:02 ·
Evan Parker Electro-Acoustic Ensemble
The Moment's Energy
2009
ECM


Sítios oficiais:
- ECM
Evan Parker Electro-Acoustic Ensemble
The Moment's Energy
2009
ECM


Sítios oficiais:
- ECM
O veterano saxofonista controla inteligentemente os duelos entre o eléctrico e o acústico, entre improvisação e composição.
O inglês Evan Parker carrega consigo a marca de inovador, característica que actualmente continua a promover, pela intensidade que ainda aplica nos seus concertos a solo no soprano – o disco Monoceros (1978) é um desses monumentos que documenta a sua incrível arte. Mas nem só de solos vive o improvisador e, além das parcerias habituais e encontros "ad-hoc", Parker parece ter especial prazer em liderar ensembles de maior dimensão. O ano passado foi a vez do Transatlantic Art Ensemble, grupo que lidera a meias com Roscoe Mitchell, editar um disco (“Boustrophedon”, ECM). Agora o barbudo voltou ao seu Electro-Acoustic Ensemble, para mais um álbum.

Embora o Electro-Acoustic Ensemble se assuma como grupo estável, e é importante ter em conta que o grupo existe desde 1992 - apesar do primeiro disco ter sido editado apenas em 1997 –, a formação não é absolutamente estática e alguns dos intervenientes vão mudando de concerto para concerto, de disco para disco. Este The Moment’s Energy é o quinto disco do grupo e é a sequência perfeita para The Eleventh Hour, um dos grandes álbuns do ano 2005.

A nível instrumental o líder Parker fica-se pelo saxofone soprano e tem o apoio de um eixo de parceiros habituais: Agustí Fernández (piano), Barry Guy (contrabaixo) e Paul Lytton (percussão e electrónica). Neste projecto colaboram também Ned Rothenberg (clarinetes), Phillip Wachsmann (violin) e Ko Ishikawa (shō, instrumento tradicional japonês, espécie de “órgão de boca”). Além destes, participa um alargada equipa aplicada a electrónicas variadas: Lawrence Casserley, Joel Ryan, Walter Prati, Richard Barrett, Paul Obermayer e Marco Vecchi. Um dos trunfos deste disco é ainda a participação do jovem trompetista Peter Evans – um verdadeiro discípulo de Parker, aplicando incríveis técnicas de respiração circular no trompete (o seu concerto solo no Jazz Em Agosto 2009 foi memorável).

As premissas base deste ensemble electro-acústico continuam as mesmas que conhecemos dos discos anteriores: as linhas base de composição são cozidas por Parker, que vai deixando algum espaço em aberto para os intervenientes inscreverem também as suas marcas pessoais. Dada a forte vertente electrónica, esta fica em natural posição de vantagem, mas a música do grupo assume naturalmente a vivência nesse inevitável confronto entre o acústico e o eléctrico (uma dualidade que está desde logo exposta na própria designação do grupo).

Sem picos de energia, cada instrumento alinha em intervenções pautadas por uma refreada contenção. Os músicos não serão adeptos das correntes “lowercase”, mas é importante indicar que o silêncio tem aqui um papel importante na condução desta música. Pela maneira como os instrumentos vão surgindo e se complementam, esta música remete também para uma abordagem camarística, quase classicista. Neste modelo de “improvisação controlada” a responsabilidade pelo sucesso do resultado final terá de ser partilhada em partes iguais pelo mentor/compositor/”condutor” e pelos intérpretes. Sendo fruto da interacção entre executantes, esta música gerada no momento, fruto da comunicação em directo, atinge uma qualidade de excelência quando trabalhada por executantes de grande nível. É este o caso.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

Parceiros