DISCOS
Gus Gus
24/7
· 19 Nov 2009 · 00:08 ·
Promiscuidade e patchouly restituem a pertinência dos Gus Gus num heróico regresso gay.
Depois de ter sofrido tantas cirurgias plásticas, a identidade dos Gus Gus corria o risco de parecer irreconhecível, como uma celebridade freak (Manuela?) que já perdeu a conta às vezes que deu a volta ao nariz e aos lábios. A gentileza do bisturi, que, em pleno reinado Björk, fez de Polydistortion uma sedutora intersecção para a electrónica trippy e a pop islandesa, foi diminuindo à medida que os Gus Gus descobriam o fogo na fricção dos sintetizadores. Foi isso que os encaminhou no sentido da tecno e da house perspectivadas com particular minimalismo. Aos poucos, deixaram de ser uma espécie de Massive Attack do frio (vozes femininas e loops envolventes), ainda que a letra de “Hateful”, passo seguro de 24/7, pudesse servir como sequela para a conhecida “Unfinished Sympathy”.
Com essa transição, o imaginário sexual, sempre saliente na música (e nome) dos Gus Gus, sofreu também algumas alterações. Era fácil recriar orgias entre estudantes de arte de Reiquiavique, com os primeiros Gus Gus intimistas, da mesma maneira que agora é possível imaginar homens com bigode, licra ajustada ao tronco e escassa preocupação moral (a capa ilustra sobrancelhas masculinas transvestidas por uma farta cabeleira de diva disco). Sem qualquer participação feminina, 24/7 é também o disco de Gus Gus mais assumido na reformulação de tudo o que era sugestivamente gay e synth-qualquer-coisa na década de 80.
Estes Gus Gus são decididamente promíscuos e isso rende revelações até aqui impensáveis. Só escutando alguém acredita que “On The Job” anda incrivelmente perto da house de genocídio, reinventada pelos Excepter, em Debt Dept.. Gus Gus e Excepter na mesma frase é, desde logo, suficiente para entender que o arrojo de 24/7 vai longe. Tão longe que intercepta o ícone George Michael quando soam bem alto as palavras Twenty-Four Seven!!, na mesma “On The Job”. Em modo de disco requentada, George Michael já tinha invocado esse pregão, quando, no animado single "Outside", convidava o mundo para os prazeres do sexo no exterior. Fica estabelecido outro laço gay e reforçada a constatação de que 24/7 passa o dia inteiro a querer badalar.
É verdade que a terceira parte encontra-o muitas vezes a tentar cortar matéria-prima com o verso da lâmina, e aí o disco enterra-se em longos estados de apatia. Tal quebra de ânimo deve-se essencialmente à bravura na voz de Daníel Ágúst Haraldsson (figura predominante na primeira temporada) e como essa faz dos primeiros temas (“Thin Ice”, “Hateful” e “On The Job”) uma trilogia de electrónica perfeitamente infecciosa. Quando isso basta para devolver aos Gus Gus o entusiasmo e a posição na música de dança feita na Europa, pode até ser boa ideia investir por aqui algumas das 24 horas dos 7 dias da semana.
Miguel ArsénioCom essa transição, o imaginário sexual, sempre saliente na música (e nome) dos Gus Gus, sofreu também algumas alterações. Era fácil recriar orgias entre estudantes de arte de Reiquiavique, com os primeiros Gus Gus intimistas, da mesma maneira que agora é possível imaginar homens com bigode, licra ajustada ao tronco e escassa preocupação moral (a capa ilustra sobrancelhas masculinas transvestidas por uma farta cabeleira de diva disco). Sem qualquer participação feminina, 24/7 é também o disco de Gus Gus mais assumido na reformulação de tudo o que era sugestivamente gay e synth-qualquer-coisa na década de 80.
Estes Gus Gus são decididamente promíscuos e isso rende revelações até aqui impensáveis. Só escutando alguém acredita que “On The Job” anda incrivelmente perto da house de genocídio, reinventada pelos Excepter, em Debt Dept.. Gus Gus e Excepter na mesma frase é, desde logo, suficiente para entender que o arrojo de 24/7 vai longe. Tão longe que intercepta o ícone George Michael quando soam bem alto as palavras Twenty-Four Seven!!, na mesma “On The Job”. Em modo de disco requentada, George Michael já tinha invocado esse pregão, quando, no animado single "Outside", convidava o mundo para os prazeres do sexo no exterior. Fica estabelecido outro laço gay e reforçada a constatação de que 24/7 passa o dia inteiro a querer badalar.
É verdade que a terceira parte encontra-o muitas vezes a tentar cortar matéria-prima com o verso da lâmina, e aí o disco enterra-se em longos estados de apatia. Tal quebra de ânimo deve-se essencialmente à bravura na voz de Daníel Ágúst Haraldsson (figura predominante na primeira temporada) e como essa faz dos primeiros temas (“Thin Ice”, “Hateful” e “On The Job”) uma trilogia de electrónica perfeitamente infecciosa. Quando isso basta para devolver aos Gus Gus o entusiasmo e a posição na música de dança feita na Europa, pode até ser boa ideia investir por aqui algumas das 24 horas dos 7 dias da semana.
migarsenio@yahoo.com
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