O segredo está na alma. E não se pense que haverá melhor forma de fazer boa música senão dar asas à liberdade que vem do interior individual. Se se juntar o improvável à equação - como aqui acontece -, não deixará de haver espaço para se ser surpreendido pela positiva, porque quando dois ícones de duas gerações distintas se encontram para o mesmo proposito, fazer magia com sons, o adjectivo surpreendente é mesmo perfeitamente adequado.

Assim se compõe a ideia base que extraímos deste objecto sonoro único que põe lado a lado uma lenda viva do afro-beat e um esteta que a nada mais se tem dedicado nos últimos anos senão ao desenvolvimento do comprimento de onda da música de Fela Kuti. Agora ambos encontram-se quase como fruto da casualidade para, no mesmo estúdio, esgrimirem as melhores ideias sobre os acabamentos da escultura que um ajudou a criar e o outro desenvolveu sem preconceitos com a modernidade.

Inspiration Information 4 é no mínimo um singular evento neste ano. Ano que já acolheu o segundo disco de Jimi Tenor com os Kabu Kabu (4th Dimension) e mais um original do mestre baterista Tony Allen (Secret Agent) e ainda assim encontrou espaço para juntar os dois sob o mesmo tecto. Jimi, que toca de tudo um pouco do saxofone, teclados ao kalimba, koto e marimbas, solta a verve jazzística (em parte com a ajuda da proficiente secção de sopro de alguns membros dos Kabu Kabu) inspirada pelos iorubas ancestrais, moldando em torno dos ritmos orgânicos e ubíquos de Allen, a contemporaneidade de uma música popular em busca da erudita sabedoria (que bem ficam as palavras de intervenção do MC Allonymous em "Against the Wall" e "Path to Wisdom").

O segredo é mesmo a alma, confiante na liberdade das escolhas que a escrita criativa - aqui aberta à experiência – proporciona a quem não se deixa condicionar quando empenhado na qualidade da hipnose do ouvinte. Inspiration Information 4 é um marco na série por permitir que a inspiração dê lugar à boa informação enquanto somos possuídos pelos rituais rítmicos mais cerimoniosos. É no equilíbrio entre a força vital dos velhos espíritos e a luz interior em premente busca do conhecimento que surgem as verdades que merecem ser contempladas. Oiça-se, só como um dos vários exemplos, o delírio de 13 minutos que é o astuto "Three Continents", para perceber até que ponto este disco é iluminado pelos deuses da mãe �frica e como o seu útero foi o berço de toda a música.