Ao fim de cinco anos de actividades não se pode dizer simplesmente que todo o percurso foi brilhante. Como também será injusto desconsiderar o tempo e o esforço de um punhado de cientistas loucos devotos da moderna e ostensiva moldagem sonora, nomeadamente de um dos géneros que caracteriza esta década: o dubstep. Consciente do seu lugar na história e da importância do seu legado nestes últimos anos, a Hyperdub acabou de sintetizar para este último ano do decénio uma retrospectiva da sua actividade – e da própria tipologia – desde 2004 até ao presente, enquanto aproveita para lançar para os próximos tempos uma série de nomes ainda com predisposição para esculpir a música ao sabor da vontade.

Como documento representativo da actividade da editora , 5 Years of Hyperdub vale por si, independentemente do hype em torno do dubstep. E se há um exemplo que destinge a Hyperdub em relação às suas congéneres (Tempa ou a Tectonic, por exemplo) é a sua inconformação com a cristalização do catálogo em torno de um só género. Desde os primeiros minutos da primeira parte, sente-se logo a presença de uma filosofia aberta a novos estímulos, sem qualquer preocupação com nomenclaturas. Nem todos sons caiem bem à primeira, havendo alguns que nunca chegam a soar a algo minimamente sustentável para o melómano mais exigente (LD, Quarta 330 e ou Joker são os azeiteiros de serviço), mas o mais elementar desejo de descoberta de novas direcções encontra-se em quase todos os cantos deste cd 1, mesmo quando o dub não sai muito bem tratado do contacto virulento com a estética 8 bit.

Com os olhos postos no futuro – e note-se como o leque do carácter sonoro é agora alargado ao glitch e ao hip-hop mais abstracto –, a editora gerida por Kode 9, arranca na primeira parte da antologia com algumas das propostas que poderão vir a render alguma consistência estética nos próximos tempos: os King Midas Sound, Darkstar, Burial e Kode 9 encontram-se na pole position da sonoridade mais coesiva – todos eles com álbuns em preparação ou prontos a serem editados; depois temos as colaborações intermitentes – umas mais sólidas que outras – de Flying Lotus (e seu primoroso hip-hop virtual), Zomby (num momento menos inspirado), Martyn (igual a si mesmo), Mala (menos irritante que o normal) ou LV (com mais um dub inspirado), enquanto nos vão entremeando nomes ainda desconhecidos como Black Chow, Cooly G ou Samiyam (todos com raciocínios pertinentes na manga).

Apesar da sempre saudável retrospectiva onde se encontram os momentos mais prodigiosos do passado da editora (onde se destacam com mérito os inevitáveis Burial e Kode 9 + The Spaceape), no seu todo 5 Years of Hyperdub é uma colectânea "farol" que não ilumina o suficiente a navegação de quem procura uma nova essência na música electrónica. Expõe, contudo, uma Hyperdub orgulhosa do seu passado recusando-se desde logo ficar refém dele, dispondo-se a novos desafios para o futuro sem medo do tropeção ocasional a que o experimentalismo também sujeita a música. Que haja saúde para continuarem.