Por mais que estique a corda, Sasu Ripatti é um daqueles produtores que dificilmente falha. Nessa medida, parece quase um Stallone que atravessa penhascos desafiando a gravidade. Habituado a distribuir esforços por diferentes projectos, entre os quais o irregular e gélido Uusitalo e o mais dançável desvio Luomo, o finlandês alterna fluidamente entre discos prontos para usufruição e criações desenvolvidas em laboratório pessoal. Num dia normal, acreditamos que Sasu Ripatti acorde com uma vontade Vladislav Delay, até porque é esse o nome predominante na sua discografia.

E Vladislav Delay é, desde sempre, um nome reservado a manobras de avanço, sem que o risco equivalha a desperdício. O novo Tummaa coincide com o arrojo entranhado em Delay, na medida em que procura, em primeiro lugar, repercutir o entusiasmo de Ripatti, aquando da sua formação como baterista, e o apego aos grandes do jazz vivido então, e só depois corresponder a formas reconhecíveis (não existe sequer a orientação dos crescendos). Sem deixar de ser abstracto e hostil, o torrencial de ritmos, que preenche os ciclos e fenómenos naturais sugeridos em Tummaa (montanha escura), define Sasu Ripatti como um deus ex-machina hiper-produtivo e romanticamente inclinado para o analógico (remetendo o laptop para um segundo plano).

O prenúncio de toda a fertilidade, que faz de Tummaa um disco com substância suficiente para dois, havia ocorrido no Festival Offf deste ano, quando Sasu Ripatti provou ser inesgotável na oscilação entre laptop e os ritmos obtidos com microfones de contacto. Seguindo a lógica do labirinto, mantida em Oeiras, Tummaa não é nada fácil: exige paciência e fé, e só tarde, na “industrializada� “Toive�, apresenta características directas. Mas assim é Vladislav Delay, na forma como retarda lógicas e revelações. Tummaa corre o risco de concluir o seu processo de ocupação num futuro incerto, quando as suas pontas conhecerem outras.