Mika Vainio é o papá que diz vem ao papá. Quem adere a Aíneen Musta Puhelin (Black Telephone of Matter é o título internacional) ciente do passado sónico de Mika, autonomamente e na dupla Pan Sonic, sabe mais ou menos ao que vem: vagas de ruído que sufocam tudo o resto, sinewaves rasantes como máquina de barbear junto à orelha, oscilações repentinas de volume que, em situações extremas, deixam os mais curiosos com os dois dedos entalados na tomada eléctrica.

Todos esses recursos conspiram a extinção de qualquer coisa cândida perseguindo a batuta de Mika Vainio, que por esta altura parece maravilhado com a multiplicação dos canais de informação e com a oportunidade de sugerir a sua decadência com os sons mais grosseiros e germinais. Favorável a essa ideia de desinformação que alastra, “A Measurement of Excess Antenna Temperature at 4080 ML/S� simula o que poderia ser uma epidemia de sinais e frequências que afecta primeiro os telefones, alcança depois os faxes e que devora toda a rede num final climático. Mika Vainio cria música romântica para hackers, basicamente.

Durante a escuta, não vale a pena ajustar o cabo dos auscultadores. Não existe qualquer mau contacto. Mau carácter e mão pesada, talvez, mas é também por isso que baixamos as calças para ser açoitados por Mika Vainio (cuja calvice também apela ao fetiche). Desta vez, o Black Telephone of Matter toca e do outro lado fala um compositor amadurecido (em sintonia com a Touch mais recente) e fixado na criação de ecossistemas que subsistem à base de ruído (servido como burburinho ou como sirene tirânica). Mika Vainio já nos habituou a este tipo de merdas e Black Telephone of Matter agradará mais aos possuidores de gosto adquirido do que aos iniciados. Os últimos que se preparem.