DISCOS
Taken By Trees
East of Eden
· 24 Set 2009 · 00:35 ·
Taken By Trees
East of Eden
2009
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Taken By Trees
- Rough Trade
- Popstock
Taken By Trees
East of Eden
2009
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Taken By Trees
- Rough Trade
- Popstock
Toda a pop freak tem Animal Collective na voz, mas alguma tem mais do que outra (ou como fazer canção rimar com Paquistão).
Quantas vezes um disco pode ser, ao mesmo tempo, pretexto para um documentário da National Geographic e um potencial argumento para um filme de Alejandro Babel Iñárritu? A pergunta oferece as respostas necessárias para entender a singularidade de East of Eden, o álbum de viagem de Taken By Trees, caravana pop conduzida por Victoria Bergsman (mundialmente reconhecida pela voz que emprestou a “Young Folks”, o tema de Peter, Björn and John que toda a gente sabe assobiar). Contam os relatos que, mesmo desaconselhada pelo governo sueco, Victoria Bergsman decidiu rumar ao Paquistão, onde foi obrigada a simular um matrimónio com o seu engenheiro de som para escapar a um casamento forçado com o filho do merceeiro mais popular lá do bairro ou alguém parecido.

Victoria misturou-se e acabou a gravar um disco com músicos locais. Se fosse outro filme (o nome já pertence a um drama protagonizado por James Dean, adaptação do livro de Steinbeck), East of Eden teria o seguinte rodapé junto a um rosto bonito parcialmente coberto: Ela perdeu-se no Paquistão e encontrou-se num disco. Por tabela, a pop sueca, que trouxe na bagagem, encontrou-se com a música tradicional paquistanesa, um pouco como acontecera com os Blur e a música de Marrocos no fantástico Think Tank.

Sucedeu-se afinal um casamento com o consentimento de ambos os estilos. E é por aí que East of Eden assume a aparência de disco híbrido, tão recolhido na sua toca de miniaturas pop como enfeitiçado por ritmos e melodias com aroma islâmico. Quando o cunho de Victoria é quase imperceptível num dos temas (“Wapas Karna” não soaria estranho numa compilação da Sublime Frequencies), o que poderia ser tomado como um sinal de esgotamento passa a ser um gesto nobre de quem não teme incluir o Paquistão puro no seu mosaico pop (às vezes próximo daquele que atribuiríamos a uns Beach House montados num camelo). Além disso, Victoria havia já provado que a mudança de ares favorece o seu engenho: “Cedar Trees” era, no anterior álbum Open Field, a mais doce canção alguma vez inspirada pelos cedros e estradas do norte de Portugal (se o palpite não me falha).

Mas a inspiração de Victoria vai além dos cedros: East of Eden está carregado de Animal Collective, e de uma forma tão assumida e cordial que ultrapassa por completo as acusações de colagem. Primeiro é a voz de Noah Lennox, o Panda Bear dos Animal Collective, que ajuda na tecelagem das harmonias de “Anna”, com a subtileza que o próprio ambicionava para as suas composições em Person Pitch (as entrevistas indicam que Rusty Santos foi o principal responsável pela elevação da sua voz no Pet Sounds lisboeta). Se ainda restassem dúvidas, “Anna” esclarece que, actualmente, Noah Lennox é bem capaz de ser o mais esclarecido Midas no toque melódico que oferece a cada refrão por onde passa. A segunda evidência incide numa versão curiosa de “My Girls” dos Animal Collective, aqui cantada a partir da perspectiva feminina (“My Boys”). Aquilo que chegou a ser house extasiada, nas mãos de Frankie Knuckles, e um hino acidental, na voz de Panda Bear, é agora pop para dança do ventre num filme recomendado a maiores de 6 anos. Ladrão que rouba ladrão repete a excelente canção. E Victoria sabe bem como rimar canção com Paquistão.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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