Quando a experimentação musical assente na improvisação resolve adoptar formas menos convencionais, o resultado pode traduzir-se numa viagem à deriva, com instrumentos perdidos, sem ligação e sentido ou, em casos extremos, numa monumental e épica seca. Em ocasiões mais afortunadas, essa experimentação anti-convencional resultará num original entendimento colectivo, daí nascendo música sem pontas soltas, concluindo-se aquilo que se deseja como uma perfeita união sonora.

Hannes Strobl (baixo), Toshimaru Nakamura (electrónicas) e Tony Buck (percussão) formam os Hear e com este disco alinham na segunda opção. Desenvolvem um estranho som, servindo-se dos instrumentos para trilhar um caminho comum e, embora isto seja à partida pouco evidente, a estratégia do trio passa por encontrar pontos de contacto, que se vão revelando mais evidentes à medida que o disco avança.

Por vezes caótica e confusa, outras vezes capaz de sugestões ambientais, a música do trio Strobl/Nakamura/Buck balança entre territórios díspares para no final se encontrar num inteligente entrelaçar. Utilizando amplamente a noção de espaço, a música do trio desafia as adjectivações de “oblíqua” e “fantasmagórica”. Os cinco temas (sem título) que compõe o disco acabam por oferecer a devida recompensa, ainda que o longo caminho obrigue a algum desgaste.