Sasu Ripatti e Antye Greie-Fuchs são unha e carne. Não é sequer necessário perceber como o fazem para entender que se complementam. Se cobrem as fraquezas um do outro, que ampliam as potencialidades que cada um alimenta. Exlode tinha mostrado já as múltiplas razões para vermos na dupla AGF/Delay esperanças nos territórios da pop e do techno e agora, Symptoms prolonga e confirma essa confiança; é como uma sequela, das boas, que parte do capítulo 1 para não se repetir, mas sim recriar. A luta em cima da mesa é entre o que é experimental e o que é declaradamente pop. Nenhum leva a melhor, ambos chegam a bom porto.

A voz de Antye Greie é rarefeita, humana, quase soprada por entre gestos metálicos e alguns tons e cores frias. As paisagens e motivos de Sasu Ripatti – ou Vladislav Delay – é matemática quanto baste e glacial quando quer a servir de base às palavras muitas vezes quentes de Antye Greie. No puxar e repuxar da corda, chega-se a um local quase neutro, certamente no futuro, em que a pop não vive sozinha e o techno não receia assumir compromissos ou fazer cedências. Melhor exemplo desse caminhar andrógino é “Congo Hearts�, metade coração mole, metade racional, deliciosamente melódico.

Só pelo factor surpresa, já vale a pena entrar em Symptoms. Apesar da sua admirável coerência, têm aquela rara capacidade de se reinventar e de permitir uma nova descoberta audição após audição. A culpa é do trabalho meticuloso e demorado de Sasu Ripatti, cirurgião dos sons, criador de espaços, tons e territórios tão próprios quanto moldáveis e adaptáveis. É como uma espécie de 4x4 equipado para todo o tipo de terreno; Sasu Ripatti é um multiusos e Antye Greie é o espectáculo apresentado semana após semana. Que venha agora alguém limpar os estilhaços, que este é um dos melhores discos de electrónica que 2009 pariu.