DISCOS
Jarvis Cocker
“Further Complications.”
· 06 Jul 2009 · 22:22 ·
Jarvis Cocker
“Further Complications.”
2009
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Jarvis Cocker
- Rough Trade
- Popstock
Jarvis Cocker
“Further Complications.”
2009
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Jarvis Cocker
- Rough Trade
- Popstock
Desencontrado de alguma inspiração, o líder dos Pulp chega à virilidade necessária com a ajuda da sua banda de agora e da produção de Steve Albini.
Sobre a hipótese de reunir os seus Pulp, adormecidos desde 2002, Jarvis Cocker mantém uma postura matreira: prefere primeiro observar os resultados obtidos pelos Blur (recentemente reactivados) e só depois decidir se vale a pena procurar validade além do mero capricho nostálgico. Além disso, Jarvis Cocker, vocalista de topo na hierarquia do carisma brit, admite que a escolha dependerá muito do dinheiro sobre a mesa. ”Further Complications.”, o segundo álbum em nome próprio, não se rege pela ponderação que coloca os Pulp em limbo, e é, desde logo, distinguível pela via do impulso rock. Desta vez, Jarvis Cocker queima calorias líricas num tapete de músicas mais vigorosas e sobressaltadas do que o habitual.

Longe de ser a obra-prima negra que conhecemos por This Is Hardcore (pavor, pornografia e pó branco), ”Further Complications.” engana o peso dos 45 anos de Jarvis Cocker sendo hardcore à sua maneira. Hardcore pela rédea larga que concede aos instrumentistas convidados (incluindo Steve Mackey, também dos Pulp) numa iniciativa mais própria de colectivo do que artista a solo. Ao conceder espaço (“Pilchard” é quase instrumental), Jarvis Cocker ganha umas batalhas e perde outras tantas: colhe assim um bom par de riffs, executados com a máxima força da produção de Steve Albini, e, nas piores alturas, permite que a faceta mais jam da banda leve até paragens um pouco disparatadas (“Caucasian Blues” é uma variante equivocada de um tema fraco dos Pogues). A identidade de Jarvis Cocker anda um pouco à deriva por aqui.

Inevitavelmente, um passado recheado de temas prontos a ser adoptados pelo indivíduo (“TV Movie” ainda é a música-talismã dos entediados) e pelas massas (“Disco 2000” perdura como hino simpático) aumenta a fasquia que gostaríamos de ver igualada (ou superada) por ”Further Complications.”. Isso não acontece, quando um terço do álbum é acessório e revelador de como pode ser a meia profundidade do caixote de lixo de canções de Jarvis Cocker. É admirável o delírio dos instrumentos de sopro na acelerada “Homewrecker!”, mas nada disto é salmão suficientemente graúdo para ficar retido na rede da memória.

Nada está perdido, ainda assim: existe sempre um ouvido que não resiste aos relatórios de investigação cedidos por Jarvis Cocker na sua exploração do imenso feminino (“Angela” entra directamente para a galeria de mulheres cantadas pelo homem que arruinou a actuação de Michael Jackson nos Brit Awards de 1996). O povo britânico pode até ser estúpido ao ponto de alguma vez ter questionado a superioridade dos Blur sobre os Oasis, mas soube estar ao lado de Jarvis Cocker no protesto contra as poses que aproximavam Michael Jackson da figura de Cristo (a encenação de “Earth Song” é ridícula). ”Further Complications.” apela à renovação desse voto de confiança tratando as complicações do costume com o sentido prático do rock e da desbunda entre amigos. É quase cruel recusar o convite.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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