DISCOS
I’m Not a Gun
Everything at Once
· 29 Mar 2003 · 08:00 ·
I’m Not a Gun
Everything at Once
2003
City Centre Offices


Sítios oficiais:
- City Centre Offices
I’m Not a Gun
Everything at Once
2003
City Centre Offices


Sítios oficiais:
- City Centre Offices
O projecto I’m Not A Gun emana um tiro à queima-roupa que segue as pegadas dos discos anteriores da City Centre Offices (onde podemos encontrar, entre outros, Opiate e Denzel + Huhn) . “Everything at Once” é a eminente alvorada da dupla Tejada/Nishimoto que decidiu refugiar-se nos “relaxes” de fim de tarde para produzir um disco viajado: a Los Angeles de Tejada, a Fukuoka (Japão) de Nishimoto e a Berlim da City Centre Offices misturam-se num fértil cruzamento de referências.

Com dezenas de singles (mais de quarenta!) editados e formação clássica, John Tejada costuma estar associado ao techno californiano (como Dj, remixer, produtor, ou dono de pequenas editoras), à electrónica, à bateria e à guitarra. O japonês Takeshi Nishimoto é conhecido essencialmente como o guitarrista de excepção que é (o que já lhe valeu avultadas distinções) muito devido ao seu ar multifacetado que o faz trabalhar frequentemente na música clássica, jazz e electrónica. A colaboração entre os dois é por isso um importante e inovador desenvolvimento (no conteúdo e na forma) de ambos os músicos numa área em que não costumam trabalhar frequentemente. Tejada ficou encarregue das programações, bateria e guitarra, enquanto que Nishimoto ficou com o baixo e (também) com a guitarra.

“Everything at Once” é para muitos o eco desenvolvido do som que já ficou conhecido como o de Chicago, mas a verdade é que se estende e transforma muito para além desse estereótipo. E podia ser apenas jazzrock com pitadas de folk music, mas não, é mais do que isso. É um disco orgânico em terra electrónica. É a experimentação dos instrumentais descontraídos com recurso aos instrumentos rock clássicos (e por isso mesmo, cada vez menos utilizados) e uma abertura de mente em relação a uma música ambiental simultaneamente livre e autónoma. Mas também pode ser menos do que isto. Pode chegar a ser enfadonho e a conter uma monotonia sonolenta. Chegar a pedir mais e a ficar-se pelo mesmo. Mas não, também não será bem assim. “Everything At Once” é, afinal, um conjunto de temas onde se distinguem o inicial “Jet Stream”, o jazz-indie-folk “Search For Sleep” ou “Long Division“ mas onde poderia ficar de fora, por exemplo, “Make Sense and Loop”. Não que este seja um mau tema, mas a sua saída asseguraria uma continuidade e conformidade maior ao álbum, que o beneficiaria em muito. Este não é um daqueles discos que o tempo se encarregará de apontar como uma marca, mas não deixa de ser interessante assistir a um certo bel-prazer da dupla Tejada/Nishimoto ao fazer música assim.

A arquitectura rítmica e o consequente jogo guitarra/bateria/baixo são explorados de forma eficaz, e muitas vezes com enorme sentido de correspondência. Vagueando por deliciosas improvisações instrumentais e texturas sonoras de primeira água, este disco deixa claro que o jazzrock, ou também aquilo que se convencionou chamar indietronica, consegue continuar a mostrar novas perspectivas deixando de lado algumas “utopias” recentes sobre tudo o que gira em torno de Chicago.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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