DISCOS
Magik Markers
Balf Quarry
· 02 Jun 2009 · 02:59 ·
Magik Markers
Balf Quarry
2009
Drag City / Flur


Sítios oficiais:
- Magik Markers
- Drag City
- Flur
Magik Markers
Balf Quarry
2009
Drag City / Flur


Sítios oficiais:
- Magik Markers
- Drag City
- Flur
Disco de estrada, Pedra de Roseta temperamentalmente repartida, consagração dos Magik Markers como o inimigo público nº1 do rock de chachada.
Na sua repartição de temperamentos, Balf Quarry é o disco de Magik Markers que mais se parece com a Pedra de Roseta, o documento histórico escrito em três línguas. A fixação por pedras é, aliás, evidente na fotografia de capa (podia ser um álbum dos Ruins) e noutra inserida no interior. Desta forma, o rock que arde dentro de Elisa Ambrogio e Pete Nolan acaba à vista de todos, para que ninguém mais duvide de que os Magik Markers são a banda de topo mais capaz de nivelar o rock por baixo (arrastando-o até ao seu berço sujo e desarrumado).

E, tal como a Pedra de Roseta, Balf Quarry oferece uma só superfície a três códigos diferentes. Alternadamente, o combustível apontado ao depósito destas canções é feito de desordem e atrito, pacificação enganosa e peregrinação (“Shells” é uma das suites assombrada do ano e a prova de que os Magik Markers conseguem ser expansivos sem arruinar a estrutura). Incessantemente, as canções procuram fazer justiça (estranha justiça) pelas suas próprias mãos. Conseguem-no, é verdade, invocando o azar, a divulsão e um karma cego e implacável até ao pulmão lírico de Elisa Ambrogio. Leva isso a que Balf Quarry, quando comparado com o mais folgado Boss, impressione por ter longos tentáculos que não oferecem escape. “Jerks” e “The Lighter Side of…Hippies” são basicamente temas de rock frontal com uma função de sequestro. Não fodam com os Magik Markers.

Em vez disso, procurem a fase dos Sonic Youth que vos pareça mais próxima da actualidade dos Magik Markers, porque a dívida existe (e subsiste) de facto. Todos os palpites-carapuça nesse sentido são discutíveis. A Thousand Leaves, provavelmente, por todas as vezes em que Elisa Ambrogio anda perto de uma Kim Gordon militar (“Contre Le Sexisme”, “The Ineffable Me”) ou pelo risco assumido nos temas mais longos (maravilhados com as hipóteses de desconstrução). Ficamos mais descansados: a continuidade da jovialidade sónica está assegurada pelos Magik Markers.



Trivialidade só para quem gosta de trivialidades

A primeira frase de Balf Quarry desencadeia uma conspiração. Com um desdém sensual na voz, Elisa Ambrogio abre “Risperdal” com as palavras Here they come with their GTOs. GTO é um modelo da Pontiac especialmente reconhecido pelo aspecto visual e potência do seu motor (inovador na época). A apropriação por parte de Hollywood fez do GTO um símbolo da cultura dos anos 70. GTO serviu também como nome para o personagem que conduz um desses carros no excelente road movie Two-Lane Blacktop. O papel pertence ao incrível Warren Oates.

Até aí nada de especial. A conspiração só ganha forma quando damos conta de que são gritantes as semelhanças entre as posturas e aparências de Elisa Ambrogio e Laurie Bird. A última participava em Two-Lane Blacktop como The Girl, o elemento feminino que desequilibrava o duelo entre ases do volante (Elisa Ambrogio também provoca instabilidade). Fora do ecrã, Laurie Bird namorou com Art Garfunkel (que lhe dedicou a canção “Scissors cut”). Quando tinha 25 anos apenas, cometeu suicídio no apartamento que partilhava com o parceiro de Paul Simon.

Citar Two-Lane Blacktop (ou não) fica bem como arranque para um Balf Quarry que também é disco de estrada.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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