DISCOS
Murcof
The Versailles Sessions
· 15 Abr 2009 · 09:46 ·
Quando o velhinho Palácio do Rei Sol dá lugar à noite, sonha-se o cósmico barroco.
Começou por ser o Terrestre nos Nortec Collective, mas hoje como Murcof, será mais extra-terrestre, deambulando pelo céu, entre estrelas, prazer pouco dado a um humano vivinho da silva como o mexicano Fernando Corona. Recolocado em Barcelona, longe da sua originária Tijuana, Fernando afastou-se aos poucos dos primeiros tempos de Martes, Utopia e Remembranza, em que reinventava genialmente o IDM e o minimal com samples de nomes clássicos como Arvo Part. Contudo, sendo progressivamente cada vez menos dançável, a sua música actualmente aproxima-se como nunca da pulsação de compositores como o estoniano referido atrás. É o caso do seu último disco Cosmos. Aí, como sempre, mas ainda mais sublinhados, os segundos entre notas ganham importância, os compassos de espera são envoltos em mistério eléctrico, e reina a absoluta beleza da tristeza cinematográfica e “drone” que marca a música de muitos compositores contemporâneos, de Part a Ligeti. Não é à toa que este último foi usado por Kubrick na banda sonora de “2001, Odisseia no Espaço” e cada vez mais ao ouvir Murcof, fica sem dúvida a sensação de que se estivesse vivo, o sr. Stanley iria pôr muita da sua música num filme. Essa ideia só reforça o facto de que Fernando Corona se está a tornar aos poucos num verdadeiro compositor e que um dia estará honrosamente entre os clássicos.
Enquanto faz literalmente história, surgiu a oportunidade para Murcof sair um pouco dessas entranhas sonoras para outras. Surgiu num trabalho, numa encomenda, num convite francês, para o Festival Les Grandes Eaux Nocturnes, um evento de luz, água e som que se desenrola anualmente no mítico Palácio de Versailles. E para ver o templo de Luis XIV perder-se nocturnamente em toda a sua opulência e majestosa decadência, nada mais perfeito do com a música do mestre mexicano.
Em total velocidade murcofiana, ouvem-se lentos violinos, flautas, cravos, samples de instrumentos do século XVII que se acumulam por entre as notas esparsas que tão bem nos fazem decorar na imaginação cada recanto do “château”. Por vezes há ainda uma voz mezzo soprano que faz explodir toda a festa barroca sem nunca acelerar, fazendo dançar única e exclusivamente a imaginação.
Algures por ali mas sempre em câmara lenta, vem à memória “Opera”, a mítica e obscura remistura techno-barroca de “Nisi Dominus” de Vivaldi por Emmanuel Santarromana há uns anos atrás. The Versailles Sessions é acima de tudo um projecto. Não se poderá considerar o legitimo sucessor de Cosmos. Fala-se que esse se chamará Oceano, mas por enquanto a verdade é que muitas paisagens e panoramas automáticos da mente passam por Versailles.
Nuno LealEnquanto faz literalmente história, surgiu a oportunidade para Murcof sair um pouco dessas entranhas sonoras para outras. Surgiu num trabalho, numa encomenda, num convite francês, para o Festival Les Grandes Eaux Nocturnes, um evento de luz, água e som que se desenrola anualmente no mítico Palácio de Versailles. E para ver o templo de Luis XIV perder-se nocturnamente em toda a sua opulência e majestosa decadência, nada mais perfeito do com a música do mestre mexicano.
Em total velocidade murcofiana, ouvem-se lentos violinos, flautas, cravos, samples de instrumentos do século XVII que se acumulam por entre as notas esparsas que tão bem nos fazem decorar na imaginação cada recanto do “château”. Por vezes há ainda uma voz mezzo soprano que faz explodir toda a festa barroca sem nunca acelerar, fazendo dançar única e exclusivamente a imaginação.
Algures por ali mas sempre em câmara lenta, vem à memória “Opera”, a mítica e obscura remistura techno-barroca de “Nisi Dominus” de Vivaldi por Emmanuel Santarromana há uns anos atrás. The Versailles Sessions é acima de tudo um projecto. Não se poderá considerar o legitimo sucessor de Cosmos. Fala-se que esse se chamará Oceano, mas por enquanto a verdade é que muitas paisagens e panoramas automáticos da mente passam por Versailles.
nunleal@gmail.com
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