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Murcof The Versailles Sessions

2008
Leaf / Flur


Começou por ser o Terrestre nos Nortec Collective, mas hoje como Murcof, será mais extra-terrestre, deambulando pelo céu, entre estrelas, prazer pouco dado a um humano vivinho da silva como o mexicano Fernando Corona. Recolocado em Barcelona, longe da sua originária Tijuana, Fernando afastou-se aos poucos dos primeiros tempos de Martes, Utopia e Remembranza, em que reinventava genialmente o IDM e o minimal com samples de nomes clássicos como Arvo Part. Contudo, sendo progressivamente cada vez menos dançável, a sua música actualmente aproxima-se como nunca da pulsação de compositores como o estoniano referido atrás. É o caso do seu último disco Cosmos. Aí, como sempre, mas ainda mais sublinhados, os segundos entre notas ganham importância, os compassos de espera são envoltos em mistério eléctrico, e reina a absoluta beleza da tristeza cinematográfica e “drone†que marca a música de muitos compositores contemporâneos, de Part a Ligeti. Não é à toa que este último foi usado por Kubrick na banda sonora de “2001, Odisseia no Espaço†e cada vez mais ao ouvir Murcof, fica sem dúvida a sensação de que se estivesse vivo, o sr. Stanley iria pôr muita da sua música num filme. Essa ideia só reforça o facto de que Fernando Corona se está a tornar aos poucos num verdadeiro compositor e que um dia estará honrosamente entre os clássicos.

Enquanto faz literalmente história, surgiu a oportunidade para Murcof sair um pouco dessas entranhas sonoras para outras. Surgiu num trabalho, numa encomenda, num convite francês, para o Festival Les Grandes Eaux Nocturnes, um evento de luz, água e som que se desenrola anualmente no mítico Palácio de Versailles. E para ver o templo de Luis XIV perder-se nocturnamente em toda a sua opulência e majestosa decadência, nada mais perfeito do com a música do mestre mexicano.

Em total velocidade murcofiana, ouvem-se lentos violinos, flautas, cravos, samples de instrumentos do século XVII que se acumulam por entre as notas esparsas que tão bem nos fazem decorar na imaginação cada recanto do “châteauâ€. Por vezes há ainda uma voz mezzo soprano que faz explodir toda a festa barroca sem nunca acelerar, fazendo dançar única e exclusivamente a imaginação.

Algures por ali mas sempre em câmara lenta, vem à memória “Operaâ€, a mítica e obscura remistura techno-barroca de “Nisi Dominus†de Vivaldi por Emmanuel Santarromana há uns anos atrás. The Versailles Sessions é acima de tudo um projecto. Não se poderá considerar o legitimo sucessor de Cosmos. Fala-se que esse se chamará Oceano, mas por enquanto a verdade é que muitas paisagens e panoramas automáticos da mente passam por Versailles.


Nuno Leal
nunleal@gmail.com
15/04/2009