DISCOS
Dent May
The Good Feeling Music of Dent May & His Magnificient Ukulele
· 09 Fev 2009 · 13:55 ·
Dent May
The Good Feeling Music of Dent May & His Magnificient Ukulele
2009
Paw Tracks / Flur
Sítios oficiais:
- Dent May
- Paw Tracks
- Flur
The Good Feeling Music of Dent May & His Magnificient Ukulele
2009
Paw Tracks / Flur
Sítios oficiais:
- Dent May
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Dent May
The Good Feeling Music of Dent May & His Magnificient Ukulele
2009
Paw Tracks / Flur
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The Good Feeling Music of Dent May & His Magnificient Ukulele
2009
Paw Tracks / Flur
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- Dent May
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Os prazeres do vinho, queijo e ERASMUS reflectem-se numa revisão descomprometida da pop do século passado.
A essência da música de Dent May é comparável a tudo o que alguém pode encontrar no vinho, no queijo e na expansão sexual que coincide habitualmente com uma temporada de ERASMUS. Ou seja, uma essência espirituosa, distinguível pelo paladar próprio e, ao mesmo tempo, pronta a animar um piquenique mais libertino. No lugar do anfitrião deste musical off Broadway (e mesmo fora do mundo em geral), Dent May menciona avidamente episódios que se confundem com o tal piquenique, referindo de igual modo nomes próprios e acontecimentos familiares (o Howard é senhor do seu show, Michael Chang é o maior). Por tabela, seria até possível que as referências invocadas fossem fáceis de identificar, num disco que repesca a pop, o doo wop e a infalibilidade do standard, como quem rouba um banco sem dar cavaco a ninguém.
Dent May, contudo, parece demasiado alienado para realizar uma correspondência minimamente lógica entre instrumentos, formas e as décadas a que cada um deles pertence. Criando a sua grandiosidade a partir de um ukulele desinibido nos limites das quatro cordas, The Good Feeling Music… parece mais empenhado em atrair toda a promiscuidade pop possível às suas canções, que aos poucos incham com trombone, violino, guitarras floridas e coros mariachi. De certo modo, este é um disco sempre disposto a testar a elasticidade de uma orgia que inclui instrumentos, personagens e contornos idílicos até abarrotar o elevador mental de Dent May.
Só mesmo com um balão cheio de influências se chega a um álbum como este. Ainda que seja desnecessário dissecar e tomar consciência de tudo o que é nomeado, é impossível negar o apadrinhamento espiritual de um Elvis Presley ao vivo no Havai, de um Barry Manilow ao balcão de um bar ou de um Morrissey pouco preocupado em demonstrar qualquer compostura. Seja pela falta de pudor no saque do crooning dourado ou pelo peso determinante do academismo sexy nestas canções, Dent May podia até ser visto como a resposta do sudeste americano (Taylor, Mississipi) ao principado da canção sueca, que tem em Jens Lekman a sua mais nobre e efervescente figura. O último, como é sabido, costuma dar por si em apuros em jantares de família, nos quais tem como missão camuflar a verdadeira sexualidade de uma tal Nina. Dent May parece muito mais interessado em banquetes partilhados com louras mamalhudas (o arranjo de cordas de “Meet Me in Garden” é uma afronta pura a Beirut e Final Fantasy), jovens parisienses (em “Oh Paris!”, o clássico “Champs-Elysées” vestido de renda e envergando óculos de massa) e hospedeiras da Lufthansa (aqui só estou mesmo a inventar). Para recuperar um cromo tão imerso num imaginário povoado pelo meio universitário e pelo escapismo às mãos de jovens tentadoras, seria necessário resgatar do baú Milo Aukerman, vocalista dos Descendents, que, por coincidência ou não, é estupidamente parecido com Dent May.
Falta apenas explicar como veio aqui parar este cromo. Com o surgimento de The Good Feeling Music… no catálogo da Paw Tracks, onde também militam Ariel Pink ou Tickley Feather, confirma-se a tendência que leva os membros de Animal Collective (responsáveis pelo selo) a proteger e a revelar excêntricos locais como Dent May. É meritória e algo suspeita a insuflação de que são capazes os Animal Collective quando deflectem a popularidade e enorme respeito global no sentido dos ilustres desconhecidos que acarinham. Ainda assim, Dent May, tal como Tickley Feather, conta com alma e talento suficientes para estar acima dessa suspeita. Se o rapaz algum dia cair em esquecimento, será pelo prazo de novelty que assombra algumas destas canções (“I’m an Alcoholic”?) e nunca por débil desempenho na configuração de um álbum a todos os níveis aprazível. Enquanto novo paladino da canção com bom feeling, Dent May pode até ser o homem certo para ditar o fim da dinastia de songwriters surfistas, que se reproduziram como as matriochkas russas (o Ben Harper deu à luz Jack Johnson, que deu à luz o intragável Donavon Frankenreiter). E esse já seria um excelente serviço prestado à humanidade por Dent May e o seu magnífico ukulele.
Miguel ArsénioDent May, contudo, parece demasiado alienado para realizar uma correspondência minimamente lógica entre instrumentos, formas e as décadas a que cada um deles pertence. Criando a sua grandiosidade a partir de um ukulele desinibido nos limites das quatro cordas, The Good Feeling Music… parece mais empenhado em atrair toda a promiscuidade pop possível às suas canções, que aos poucos incham com trombone, violino, guitarras floridas e coros mariachi. De certo modo, este é um disco sempre disposto a testar a elasticidade de uma orgia que inclui instrumentos, personagens e contornos idílicos até abarrotar o elevador mental de Dent May.
Só mesmo com um balão cheio de influências se chega a um álbum como este. Ainda que seja desnecessário dissecar e tomar consciência de tudo o que é nomeado, é impossível negar o apadrinhamento espiritual de um Elvis Presley ao vivo no Havai, de um Barry Manilow ao balcão de um bar ou de um Morrissey pouco preocupado em demonstrar qualquer compostura. Seja pela falta de pudor no saque do crooning dourado ou pelo peso determinante do academismo sexy nestas canções, Dent May podia até ser visto como a resposta do sudeste americano (Taylor, Mississipi) ao principado da canção sueca, que tem em Jens Lekman a sua mais nobre e efervescente figura. O último, como é sabido, costuma dar por si em apuros em jantares de família, nos quais tem como missão camuflar a verdadeira sexualidade de uma tal Nina. Dent May parece muito mais interessado em banquetes partilhados com louras mamalhudas (o arranjo de cordas de “Meet Me in Garden” é uma afronta pura a Beirut e Final Fantasy), jovens parisienses (em “Oh Paris!”, o clássico “Champs-Elysées” vestido de renda e envergando óculos de massa) e hospedeiras da Lufthansa (aqui só estou mesmo a inventar). Para recuperar um cromo tão imerso num imaginário povoado pelo meio universitário e pelo escapismo às mãos de jovens tentadoras, seria necessário resgatar do baú Milo Aukerman, vocalista dos Descendents, que, por coincidência ou não, é estupidamente parecido com Dent May.
Falta apenas explicar como veio aqui parar este cromo. Com o surgimento de The Good Feeling Music… no catálogo da Paw Tracks, onde também militam Ariel Pink ou Tickley Feather, confirma-se a tendência que leva os membros de Animal Collective (responsáveis pelo selo) a proteger e a revelar excêntricos locais como Dent May. É meritória e algo suspeita a insuflação de que são capazes os Animal Collective quando deflectem a popularidade e enorme respeito global no sentido dos ilustres desconhecidos que acarinham. Ainda assim, Dent May, tal como Tickley Feather, conta com alma e talento suficientes para estar acima dessa suspeita. Se o rapaz algum dia cair em esquecimento, será pelo prazo de novelty que assombra algumas destas canções (“I’m an Alcoholic”?) e nunca por débil desempenho na configuração de um álbum a todos os níveis aprazível. Enquanto novo paladino da canção com bom feeling, Dent May pode até ser o homem certo para ditar o fim da dinastia de songwriters surfistas, que se reproduziram como as matriochkas russas (o Ben Harper deu à luz Jack Johnson, que deu à luz o intragável Donavon Frankenreiter). E esse já seria um excelente serviço prestado à humanidade por Dent May e o seu magnífico ukulele.
migarsenio@yahoo.com
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