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Women
Women
· 22 Dez 2008 · 09:38 ·
Women
Women
2008
Jagjaguwar


Sítios oficiais:
- Women
- Jagjaguwar
Women
Women
2008
Jagjaguwar


Sítios oficiais:
- Women
- Jagjaguwar
Um cocktail de banda e capa que só podia dar num disco bem feminista e político, ou então num manifesto machista e sexual, ou então em nada disso. Exactamente. Nada disso.
Uma banda de homens que se intitulam de “mulheres”. Uma capa algures numa Coreia ou China da vida, uma gigantesca demonstração feminina organizada de tai chi. Um cocktail de banda e capa que só podia dar num disco bem feminista e político, ou então num manifesto machista e sexual, ou então em nada disso. Exactamente. Nada disso. Não tem nada a ver. Apesar da capa bem west-coast-punkalhona, não há Dead Kennedys, Black Flag ou Minutemen por aqui. Não. E apesar de canadianos, também não há aqui a onda de Montreal. Nada disso. Estas “mulheres” de Calgary preferem no seu primeiro disco, editado pelo selo de qualidade Jagjaguwar, assumir desde logo a enorme distância que separa a metrópole do Quebec da sua cidade-natal. Nisto, algures no “midwest” canadiano decidiram emigrar mentalmente para alguma Inglaterra de finais de setentas, talvez com a ajuda de alguma máquina do tempo com o rádio sintonizado na BBC na hora do programa do falecido-mas-jamais-será-esquecido John Peel.

Esta é a sensação para quem entra no disco algures a meio. Mas como os Women gostam de enganar ao sabor do cocktail, a primeira faixa “Cameras” começa num eco pop e tranquilamente radiante com o vocalista Patrick Flegel num registo próximo de uns Fleet Foxes. Isto para em segundos dar em lo-fi tão “lo” como uns Guided By Voices mal gravados de propósito. Cortesia de um dos magos da Sub Pop, o produtor Chad VanGaalen, homem que gosta de gravar em caves e que assim mesmo gravou estes canadianos. “Cameras” é um simples minuto que introduz no fundo o que vem a seguir, uma variação muito bem vinda dos velhinhos mas cada vez mais actuais This Heat. Fantasmas que assombram, por exemplo, algumas das melhores canções dos Liars. Nível elevado que estes Women conseguem atingir com mestria.

Mas como gostam de enganar, curiosamente como os Liars do seu último e homónimo álbum, quando pensamos, “pronto agora ficam à sombra da bananeira industrial”, não. Puro engano. Porque “Black Rice” entra em cena, com a salvação do rock indie nos braços. A mesma urgência contemporânea de uns Deerhunter, aquele “play-e-soa-tão-bem-que-repeat-repeat” que nos faz sorrir no meio do trânsito, do metro, do escritório, da escola, que nos alegra ponto. Daquela “guitarralegria” que faz rir às lágrimas com um arrepio, que Byrds e Velvet inventaram para uma eterna repescagem aqui e ali, para bem dos ouvidos de muita Humanidade.

“Sag Harbor Bridge” chega a seguir. A colaboração que nunca aconteceu entre os Swell Maps e John Fahey, um instrumental que faz de rampa de lançamento para os altos voos de “Group Transport Hall”. Pop psicadélica de alto calibre, que como qualquer pérola que se preze, é valiosamente pequenina, pouco mais de um minuto, mas que vale por muitas canções de cinco. Exactamente a marca temporal que pretende atingir “Shaking Hand”, talvez a música mais excitante do álbum, e de certeza a mais longa. Nutrida do fervor nervoso de uns Go-Betweens lo-fi do início, ao ouvi-la é impossível um corpo não reagir com movimento aos acordes dedilhados e logo começar a dançar como se não houvesse amanhã. “Upstairs” continua algures no mesmo caminho, com os Wire pelo meio, para depois “8th January” encontrar um rumo de experimentação total num rio sónico que desagua supersónico em “Flashlights”. Assim acaba mais um álbum deste ano que finda, que sem nada de absolutamente novo, pode e deve ser muito bem o início de uma bela amizade deste lado do Atlântico em 2009.
Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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