DISCOS
Arms
Kids Aflame
· 12 Dez 2008 · 10:24 ·
Arms
Kids Aflame
2008
Melodic


Sítios oficiais:
- Arms
- Melodic
Arms
Kids Aflame
2008
Melodic


Sítios oficiais:
- Arms
- Melodic
A Brooklyn da amargura e cor púrpura renasce dignificada num conjunto de canções muito apreciável.
Brooklyn é, ao mesmo tempo, o tónico e o tóxico que agita a música de Arms, impedindo-a de ser apenas mais uma onda esquecida assim que se enrola na areia, com o fim do disco de estreia Kids Aflame. Fosse necessário responsabilizar alguém pela omnipresença de Brooklyn nesta vigorosa afirmação e a culpa recairia inteiramente sobre Todd Goldstein, rapaz de vinte e seis anos, que decidiu partir para Nova Iorque convicto de que, a seu tempo, criaria a música que idealizara.

Valendo-se de um método autodidacta aplicado aos vários instrumentos que adoptou, Todd Goldstein conseguiu gravar Kids Aflame praticamente sozinho (e não é em dois dias que se arranca esta força às guitarras). Podia ser a história de Linda de Suza, com as devidas diferenças (paragens em motéis e nódoas negras), mas Kids Aflame não deve especial favor a ninguém. Pela maturidade e espontaneidade que demonstra logo na aurora criativa de um escritor de canções, Kids Aflame deve envaidecer o próprio Todd e a Melodic de Manchester que o descobriu na margem oposta do imenso Atlântico.

A associação inicial é, contudo, inevitável: encostar um ouvido a Kids Aflame é como aproximá-lo de uma caixinha de música que alguém trouxe de Brooklyn como souvenir. Cada faixa facilita uma nova perspectiva de voyeur sobre as salas e os quartos mais chegados à fachada de um mesmo quarteirão. E os episódios interceptados a rotinas alheias podem até ser de decisão (o single “Whirring”), de solidão (“Sad, sad, sad”) ou de consciencialização de que tudo é passageiro (“Tiger Tamer” arrisca um mote muito The National com o disparo de Your daddy is on fire / Your momy is a liar). Alcançados por guitarras em cascata de eco ou pela sobriedade do ukulele, todos formam núcleos de intimidade expostos com a subtileza de quem observa sem perturbar e sem a camuflagem de uma produção que anule o valor verosímil destas canções. Vale a pena estender um braço no sentido de Arms e desta agradável surpresa.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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