DISCOS
Fern Knight
Fern Knight
· 04 Nov 2008 · 09:30 ·
Fern Knight
Fern Knight
2008
VHF


Sítios oficiais:
- Fern Knight
- VHF
Fern Knight
Fern Knight
2008
VHF


Sítios oficiais:
- Fern Knight
- VHF
Música para bruxos e alquimistas em altura de eleições americanas. Dia de afastar fantasmas ou de seguir com os mesmos?
É preciso alguma classe e sentido de orientação – para além de muita confiança – para acasalar territórios musicais distintos como se fossem peças de Lego e daí sair com uma obra digna de elogios por muitos. Enfiar folk, krautrock e música barroca no mesmo disco e não provocar tonturas ou náuseas não é para todos. Margaret Wienk é a responsável principal pela proeza no terceiro disco de um quarteto de Philadelphia que tem nos seus restantes membros valores preciosos para esta tarefa. Este disco não podia existir sem a harpa e sem o violino, mesmo que a voz de Margaret Wienk seja suficientemente interessante para um disco a cappella.

Fern Knight é mesmo assim: altamente rico em texturas mas sem gorduras. Não há nada aqui que pudesse ser retirado sem que a fotografia sofresse danos irreversíveis. Esse cuidado enriquece o disco e não o sufoca – como tantas vezes acontece quando se quer dar a um conjunto de canções arranjos de sonho. “Silver Fox”, em quase 8 minutos, é o exemplo perfeito do balanço entre a melodia fácil e nem por isso (há ali uma guitarra fugidia que quer destruir o castelo de cartas), entre a doçura da voz de Margaret Wienk e alguma obscuridade necessária que a música dos Fern Knighr deseja transmitir. O que sobra é um mistério que nem precisa de nevoeiro e estranheza para se impor. É um mistério que não foge da luz como se esta fosse o seu calcanhar de Aquiles. Desta forma, aproximam-se – e bem – do territórios de bandas como os Espers e os Faun Fables sem que necessariamente o façam demasiado.

A beleza que se constrói em Fern Knight não é gratuita nem entregue em mão a quem procura aqui um subterfúgio fácil para a redenção. Apesar da familiaridade de algumas canções, este é um disco de descoberta contínua. Há nestas nove canções matéria suficiente para ser esticada com facilidade. A elasticidade e extensão territorial de canções como “Loch Na Foeey” ou “Synge’s Chair” esconde muitas vezes segredos que se vão revelando de audição para audição. As canções que não são “canções” – e que vivem assim abertas – têm destas coisas.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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