DISCOS
Jaguar Love
Take Me To The Sea
· 31 Out 2008 · 10:03 ·
Jaguar Love
Take Me To The Sea
2008
Matador / Popstock


Sítios oficiais:
- Jaguar Love
- Matador
- Popstock
Jaguar Love
Take Me To The Sea
2008
Matador / Popstock


Sítios oficiais:
- Jaguar Love
- Matador
- Popstock
Blood Brothers Make Graves é um nome híbrido que soa bem melhor na teoria do que na prática.
À partida, soava bem no papel a ideia de uma super-banda que unisse membros dos extintos Blood Brothers e dos igualmente dissolvidos Pretty Girls Make Graves, identidades esteticamente próximas pelo apego ao mesmo rock de desgraça, sofrido em vozes esganiçadas e aproveitado numa fogueira instrumental que carboniza emoções com a eficiência do hardcore e punk, não sem dispensar dose de inteligência que anule a rotina e a banalidade. Não admira assim tanto que os Blood Brothers e Pretty Girls Make Graves viessem um dia a pisar o mesmo altar disfuncional. Quis o destino que fosse um Jaguar Love a abençoar o triângulo de amor-ódio que reúne Johnny Whitney e Cody Votolato da irmandade incendiária de Seattle e Jay Clark dos igualmente meteóricos PGMG. Take Me To The Sea marca a estreia (na Matador), sem defraudar expectativas, é certo, mas não convencendo além da quota imposta pelos envolvidos.

As boas notícias para quem gosta de más notícias centram-se num Johnny Whitney (ex-vocalista dos Blood Brothers) que continua igual a si mesmo no uso que faz da sua diversidade hormonal: desta vez, canta como uma pilha de nervos que arranha os céus acumulando camadas de estridência e histerismo, como o porta-voz da rebeldia feminina Kill Rock Stars que atraiu até ao seu corpo o diabo das Sleater-Kinney (omnipresentes em “Highways of Gold”). Sem nunca assumir o papel definitivo de homem ou mulher, Johnny Whitney garante voz assexuada para delírios rock de estádio (“Bats Over the Pacific Ocean”) e outros momentos nostálgicos propícios a beijos doridos entre pin-ups de MySpace e poseurs que militam em bandas que ninguém conhece.

O furacão Johnny Whitney não chega, mesmo assim, para ensurdecer todo o cinzento irrelevante que cobre a paisagem instrumental de Take Me To The Sea, que bem se esforça por variar (inclui órgãos vintage e tudo mais), mas que reverte quase sempre a uma monotonia pegajosa que amassa soul, pop feroz e alguma pompa sem criar substância. Os mais incondicionais admiradores da Matador podem ficar descansados, porque, ao que parece, dias negros como este fazem já parte de um passado que à sua frente tem novos discos de Sonic Youth e edições de Lou Reed e Pavement que prometem excelência. É também verdade que há noites em que apetece vestir aquela t-shirt que deixa maior porção de pança à mostra. Ao abrigo dessa amnistia do puro gozo, Take Me To The Sea diverte enquanto a bebida está acima da metade do copo. Atira-te ao mar e diz que te empurrarem.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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