DISCOS
Milosh
III
· 13 Out 2008 · 12:32 ·
Milosh
III
2008
Plug Research / Popstock!


Sítios oficiais:
- Milosh
- Plug Research
- Popstock!
Milosh
III
2008
Plug Research / Popstock!


Sítios oficiais:
- Milosh
- Plug Research
- Popstock!
A electrónica de bolso sob o manto zen de um retiro espiritual, com Telefon Tel Aviv como Dalai Lama.
A reclusão tem destas coisas. Há cerca de um ano, Michael Milosh viajou da sua Toronto natal até à longínqua ilha tailandesa de Koh Samui. Durante esse tempo, imerso num isolamento típico de monge budista, ele compôs e gravou III, que é uma encantatória jornada pela superfície mais adesiva dos sonhos lentos e tripados. O disco vem de uma linhagem próxima da folktronica de Four Tet e Manitoba, banhado em truques da micro-electrónica de laptops.

A voz de Milosh chega em arrastado falsete, a pingar mel e carregada de uma melancolia que nunca descola. Ouvimo-la dessa forma sobretudo em "Gentle Samui" e, mais tarde, em "Leaving Samui", peças de fado electrónico, prenhas de uma saudade anunciada da ilha que serviu de pátria a este álbum. A servir de cola a estas pontas soltas (próprias de um sonho, insistimos na ideia) estão as mãozinhas pós-Pro Tools de Joshua Eustis, o senhor Telefon Tel Aviv.

Em pouco mais de 40 minutos, há por aqui pasto imenso para se adormecer ao volante, como os Elbow já tinham alertado em relação à música de Coltrane. Mas o terceiro álbum de Milosh induz o sono pelas razões boas (quase juramos que o Coltrane também): "Remember the Good Things" é escadaria de seda eléctrica que leva a tocar as estrelas, enquanto "Warm Waters" é calmaria zen vestida de programações minúsculas.

À excepção da faixa que abre o álbum, "Awful Game", que tem uma palpitação a meio caminho entre o IDM menos carregado e o glitch mais nervoso, tudo o que resta em III é como a manta que cobre até às orelhas em noite de Inverno. Se não fosse pedir muito, diríamos que o breakbeat e o dub de Techno Animal, feitos de vagas pesadas mas lentas, marcam território em "Wrapped Round My Ways". Mas, para isso, é preciso descontar a facção industrial da música de Justin Broadrick porque a cantiga de Milosh é outra.

Recorremos uma última vez ao animal lá em cima só para ilustrar essa coisa meio homem, meio besta que é ter uma voz tratada, logo mecanizada, num ambiente acústico, quase rural. E se bem nos lembramos, o Canadá já tinha levado as toupeiras da electrónica de bolso a saírem das suas tocas com o rapanço cirúrgico de Sixtoo (que já pertenceu ao clã Anticon), agora Milosh volta a pôr a América progressiva na rota da electrónica que interessa, aquela que não é bolorenta nem aborrece de morte.
Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com

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