DISCOS
Leila
Blood, Looms and Blooms
· 09 Set 2008 · 08:00 ·
Leila
Blood, Looms and Blooms
2008
Warp


Sítios oficiais:
- Leila
- Warp
Leila
Blood, Looms and Blooms
2008
Warp


Sítios oficiais:
- Leila
- Warp
Velha aliada de Björk arrisca um trip-hop anabólico para quem sempre quis ir à lua, independentemente dos bocejos que isso possa implicar.
Uma das principais convenções do cinema de ficção científica dita que um personagem ido à lua regresse depois à Terra num estado alterado, infectado por um vírus ou com uma criatura alojada no estômago. Os oito anos que separam o segundo álbum - Courtesy of Choice - do terceiro Blood, Looms and Blooms representam tempo de sobra para que também Leila tenha ido ao espaço e voltado. Ainda assim, os filmes de ficção-científica podem afinal estar errados, porque, desta vez, não se descobrem alterações relevantes na astronauta iraniana, que continua montada na mesma bicicleta de sempre, afeiçoada a uma electrónica focada num retrovisor afectivo, mais do que nas rotas futuras, excessivamente confiante de que a aparência portentosa de “Army of Me” de Björk é o que basta para que uma criação de laptop impressione e justifique a rendição. Não basta. É, contudo, compreensível a manutenção desse último traço, quando se sabe da ligação entre a islandesa e a nova atracção da Warp: por altura da digressão Post, despertar múltiplo em que cooperou, era comum a presença em palco de Leila Arab, reconhecível pela expressão malvada que assumia enquanto violentava uns teclados e outros tantos sintetizadores. À lupa de Blood, Looms and Blooms, os tempos parecem não ter mudado assim tanto.

Com Blood, Looms and Blooms, Leila produz essencialmente um disco de trip-hop com ênfase na componente trip. Fá-lo distorcendo a exportação de Bristol até um ponto em que deixa de ser a o elegante tapete de tons pulp, prontos para a voz de Beth Gibbons, e passa a ser uma via láctea de electrónica ora inchada ora diminuída e com pantufas, embora sempre apta a receber também as vozes de Terry Hall, o britânico branco mais cool do mundo no tempo dos Specials, Martina Topley Bird, a diva dos discos de Tricky, e Roya Arab, a irmã de Leila que pouco poderia fazer para evitar que “Daisies, Cats and Spacemen” não soasse a um pastiche descarado de Portishead. Filtrado por alguma ingenuidade e afectado por uma certa megalomania Pluramon (o produtor alemão que tão bem sabe agigantar a pop e confiá-la a interpretes de excepção como Julee Cruise), Blood, Looms and Blooms sofre com acidentes de percurso como “Time to Blow” (repetitivo tema de incentivo matinal ideal para uma porn-star a caminho do emprego) ou “Little Acorns” (mini-M.I.A. num foguetão sabotado pela patetice?) e redime-se dos mesmos com rasgos de intensidade como “Mettle” (fim do mundo debaixo de uma goteira e entre guitarras compressoras) ou “Carplos” (barroco Giorgio Moroder impecavelmente recuperado em sintetizadores que transformam o plano sideral num lugar afrodisíaco). Fazem-se as contas a giz e o saldo positivo fica pouco acima da linha de água.

Até porque Blood, Looms and Blooms mete água com fartura a cada vez que se atreve a adicionar mais um passo à medida certa da dezena de temas. Torna-se incrivelmente fatigante acompanhar as aventuras de Leila quando a duração da missão ultrapassa os 40 minutos. Os azarados, que possam já ter visto o Val Kilmer num filme de aventuras em Marte, saberão de antemão que o espaço pode ser também um lugar de puro tédio. Os restantes devem aventurar-se por sua própria conta e risco.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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