Dado o inevitável esgotamento criativo a que os riddims de características militares/marciais estavam destinados na sua obstinação pelos drive-by shootings e conquista de território, tornou-se necessário aos arquitectos do dancehall salvaguardar o género da auto-fagia, reinventando padrões e improvisando saídas num género que se mostrava demasiado dormente e perdido dentro dos labirintos que para si próprio criou. Produções que não descurando toda a hotness necessária, a movimentam por cenários bem mais diversificados do que as perigosas ruas de Kingston ou praias onde a construção ilegal é um mito, forçando assim as vozes que as consubstanciam a diversificarem-se para além do tom ameaçador de Vybz Kartel ou da serenidade de Buju Banton.

Entre o melodramatismo de alguém como o Movado ou os esquemas rítmicos memoráveis de Busy Signal, toda uma miríade de cantores/toasters vão lentamente descortinando vozes que não descurando as roots do passado, almejam a individualidade. Forçando as cordas vocais até ao limite permitido pelo seu próprio falseto, a voz de Serani tem neste ponto a sua característica distintiva, mas também o seu calcanhar de Aquiles, por todos os exageros que esta sua diletância aos agudos poderá provocar ao longo de álbum. Neste ponto, The Future é claramente um vencedor, despachando onze faixas em menos de quarenta minutos, num meio tão dado a longos álbuns, de ratio qualidade/quantidade muito pouco equilibrado. Evita assim o cansaço que a sua voz tende a causar, e torna mais memoráveis os vários andamentos de The Future, mesmo que nem sempre se justificasse espaço mental para momentos como "Not A Badman" e a sua inocuídade disfarçada de introspecção ou a rendenção lamechas de "Be Free".

É essencialmente na sua primeira metade que The Future se mostra essencial na revitalização do género, seja através de "Doh" (com a participação de Bugle) e as suas camadas rítmicas efervescentes ou da sensualidade caribenha de "She Loves Me". "Study People" é o já obrigatório uso do auto-tune para belíssimo efeito e apesar da presença do cada vez mais irritante Elephant Man, "Hypocrites" é o melhor que uma esplanada ao final da tarde sob um chapéu de palha e na melhor companhia feminina pode oferecer. Apesar do título, The Future não será o reflexo desse mesmo futuro para o dancehall, mas um óptimo documento de um presente, que neste mês de Agosto se revela ainda mais gratificante.