DISCOS
Mystery Jets
Twenty One
· 29 Jul 2008 · 08:00 ·
Mystery Jets
Twenty One
2008
Sixsevenine / Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Mystery Jets
- Sixsevenine
- Rough Trade
- Popstock
Mystery Jets
Twenty One
2008
Sixsevenine / Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Mystery Jets
- Sixsevenine
- Rough Trade
- Popstock
A mais actualizada receita brit para a pop caleidoscópica serve bem à confecção de um Verão nada preocupado com a hipótese de reviver as mesmas experiências de sempre.
(Sequela não-oficial do parecer recentemente dedicado, por aqui, a Cómo Te Llamas? de Albert Hammond Jr.)
O Verão e o seu clima tórrido puxam por mojitos, daiquiris e gim Bombay Sapphire e são habitualmente esses os tónicos que amolecem o critério do melómano e fazem esquecer a relevância da frescura como factor a ter em conta nas escolha dos discos a ter por perto na estação. Ao abrigo disso, os Mystery Jets correspondem – com pontaria tangencial – à banda ideal para mascar durante um par de meses de sol e lazer, mesmo que, após esgotado o prazo, seja quase inevitável o descarte, tal é quantidade de repescagens que, na melhor das hipóteses, fazem dos britânicos exemplares pupilos da pop radiofónica dos últimos 30 anos, se bem que nem tanto artilheiros particularmente subtis desse fogo armazenado.

Sabe-se, porém, que amassar de novo o pão cozinhado há muito tempo é um pecado higiénico geralmente apagado ao cadastro de bandas que acumulam credenciais tão prontas a agradar como as que circundam a biografia destes Mystery Jets: banda projectada a partir da pequena cena de Eel Pie Island (em Twickenham, Londres) e desde sempre perseguida por uma origem curiosa que passou pelo convite de um pai arquitecto com 55 anos, Henry Harrison, dirigido ao filho Blain Harrison, dono de uma voz nasal que exige o seu tempo de adaptação. O quadro de coolness - bem ao gosto dos leitores da publicação NME - fica completo com a devoção assumida por Syd Barrett e a atribuição da produção de Twenty One a Erol Alkan, o DJ de aclamado gosto indie, que sabe agitar um dos espaços mais selectos da noite londrina como se fosse um cocktail.

Erol Alkan não salva os Mystery Jets da dor sofrida com alguns passos maiores que a perna (Twenty One desespera por ser bem sucedido na gestão de uma estranheza psicadélica insipidamente soft), mas abençoa as suas músicas com o conhecimento necessário à recuperação dos mais letais sintetizadores - com o odor de laca entranhado - e das técnicas da aurora da década de 80 que fabricavam refrães armadilhados com um sabor a baunilha aguada (entre o que faziam os Duran Duran e Hall & Oates, predilectos nostálgicos de Panda Bear). Nessa apropriação dos golpes pertencentes ao karate de um passado nem sempre digno mas divertido, ao qual devem ser somados alguns instrumentos de sopro estupidamente foleiros, os Mystery Jets são eficazes em medida q.b.: o segundo longa-duração, Twenty One, além de transparecer um momento significante num percurso repleto de singles, incide na capacidade energética que possuem as guitarras – ora apontadas à agitação da anca, ora mais perdidas em riffs esguios – como narradoras de uma juventude que possivelmente atingiu o seu apogeu aos 21 anos – idade ainda disposta a encaixar toda a variedade de terramotos emocionais a que está sujeito o coração. Após fazer soar um alarme logo no início, Twenty One lança-se sobre os carris de uma montanha-russa que, entre altos e baixos, passa por meios-amores, pela atracção sexual revelada em pistas espalhafatosas, pelas vantagens e desvantagens de um affair de uma noite só. O “eu” dos Mystery Jets esgota-se a tal ponto no relato das aventuras amorosas que a abordagem quase parece existencial, embora como se fosse contada numa sitcomsofisticada (especialidade britânica, como se sabe). Twenty One distrai enquanto dura, evapora-se assim que a atenção é interrompida por algo mais substancial.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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