A tendência generalizada para gerar expectativas, levada a cabo pelos meios de difusão no epicentro grime, conduz inevitavelmente com demasiada frequência ou ao elogio à mediocridade ou a uma escusada avalanche crítica de características meramente ofensivas e maioritariamente desprovidas de significado real. Nas palavras imortais de Frank Constanza, Serenity Now é uma imposição para que não se destitua da razão uma certa objectividade crítica necessária a todos estes "caprichos analíticos" (fora de umbiguismos) onde uma contextualização se revela fulcral. No caso de JME, as expectativas só poderiam ser altas, quer pela sua responsabilidade numa certa profissionalização de um género (até então) confinado ao marginalismo dos programas de rádio pirata e mixtapes sem qualquer critério de qualidade (atente-se nas quatro edições da Boy Better Know que mantém com o seu irmão Skepta), quer pelo relativo silêncio a que se remeteu desde da fabulosa Tropical (de 2006), ocupadíssimo que estava com a rentável venda de t-shirts ("BBK sells more t-shirts than Versace") e respectivos cameos publicitários. A altura até parece ser a melhor, com o regresso do grime (ou resquícios) aos top`s britânicos pela mão da euforia electro "Wearing My Rolex" e de uma "Dance Wiv Me" dolorosamente medíocre, e Famous?, embora longe de brilhante não deixa de ser um dos lançamentos mais satisfatórios de um ano de 2008 já por si só bastante simpático para o género, meritório de uma maior atenção do que aquela a que hypes algo infundados como Freedom of Speech ou mesmo Grimewave tiveram direito.

A voz de JME abandona em parte o toada apopléctica de grande parte Shh Hut Yuh Muh ou Poomplex para abraçar mais frequentemente o tom quase casual (embora nunca displicente) de faixas como "The Future" ou "Boy Better Know", e felizmente não se deixa conduzir tantas vezes como o esperado com rimas sobre o (aparentemente) fantástico merchandising da BBK, mantendo a tónica na sua auto-celebração (felizmente despida de arrogância excessiva). Sobre clássicos como "Awoh" ou "Serious", só se justifica a sua inclusão em Famous? pela suposta exposição que o estatuto de álbum (por oposição a uma "pobre" mixtape) poderá sofrer, embora não soem de todo deslocados entre o lado mais introspectivo de "Famous" (provas dadas sobre a seriedade passa-se à fama?) ou a toada ameaçadora da esquelética "Punch In The Face".

Constata-se facilmente que nenhum destes momentos atinge o brilhantismo de qualquer um dos clássicos, mas ainda assim, "Shh Hut Yuh Muh" é mais uma prova do dom do jovem Maniac em tecer instrumentais épicos sem cair no pretensiosismo balofo e a bizarria de batida dura e teclado vicioso de "Boogiedown Bass" revela um filão ainda pouco explorado com resultados bastante dignos. E mesmo que o botão de skip pareça tão apetecível perante a passividade melosa de "Show" ou a releitura desnecessária de "Serious" em "Standard", todos estes erros de line-up desaparecem facilmente na memória perante a quirkiness irresistível de "Sun, Sea & Sand", que, aproveitando tudo de bom que a dança sexualizada de Tropical insinuava, a transforma no verdadeiro Summer Athem de 2008, festa de confettis sobre a forma dos sintetizadores mais entusiasmantes desde "If You`re Going Out, I`m Going Out Too". E as expectativas, essas parecem agora meras formalidades cuja conveniência força a serem resolvidas, mesmo que no caso em questão os bons momentos de Famous? sejam mais do suficientes para arranjar espaço no ipod para a viagem até à praia ou para a ocasional festa em casa de um amigo onde todos querem ser o centro das atenções.