DISCOS
Booka Shade
The Sun And The Neon Light
· 12 Jun 2008 · 08:00 ·
Booka Shade
The Sun And The Neon Light
2008
Get Physical Music / Popstock


Sítios oficiais:
- Booka Shade
- Get Physical Music
- Popstock
Booka Shade
The Sun And The Neon Light
2008
Get Physical Music / Popstock


Sítios oficiais:
- Booka Shade
- Get Physical Music
- Popstock
Indolência pop em busca de afirmação no electro-house. Eis a nova asseveração da dupla alemã Walter Merziger and Arno Kammermeier.
Nunca foram mestres no seu ofício, talvez nunca se tenham esforçado para isso. No entanto sempre souberam dignificar a sua arte, porque numa conjectura saturada de redundâncias e sem perspectiva de futuro, todos que façam promessas com um amanhã radioso serão sempre encarados como o ponto de mudança - senão a next big thing -, mesmo que o facto musical não traga nada de substancialmente novo.

Os Booka Shade estão encalhados nesse escalão onde a ansiedade de terceiros cria uma expectativa exagerada sobre o que se poderia realmente esperar da dupla Walter Merziger e Arno Kammermeier. Nunca pediram o céu, nem nunca pretenderam alterar diametralmente o que aprenderam a fazer bem: produzir música de dança.

The Sun And The Neon Light é talvez o passo mais seguro na estética do projecto. Um passo lógico onde a sonoridade bifurca-se entre os apelos pop que sempre mantiveram num canto escuro e escondido e a óbvia obrigação de proporcionar temas para regozijo hedónico na pista de dança. Mas o que muitos dos seus sagrados admiradores encaram como um passo em falso – isto em perspectiva com Momento (2004) e Movements (2006) e a mão cheia de pequenos êxitos dançantes –, haverá quem agora encontre finalmente motivos de maior interesse.

The Sun And The Neon Light é o mais conceptual de todos os discos produzidos pela dupla alemã e simultaneamente acaba por ser o mais fácil de ouvir. Não opta por um discurso exclusivamente dirigido às pistas de dança, antes oferece diversos ângulos de pop lânguida para a matriz electro-house a que nos fomos habituando. Perspectivas novas em tom pop que não deixam de evocar formas e geometrias de 80 – onde os Depeche Mode parecem ser uma das principais fontes de inspiração. Ouvem-se guitarras tresmalhadas que se conjugam com sintetizadores («Dusty Boots», «Solo City» ou «Comacabana»), vozes sussurrantes a recitar segredos no ouvido («Control Me» ou «Sweet Lies»), orquestrações a complementar o vazio deixado pelas máquinas («Outskirts», «The Sun And The Neon Light») e prazeres ofegantes espalhados pelo éter («You Don't Know What You Mean To Me (J's Lullaby)»).

Não será definitivamente a obra que muitos desejariam, agora a certeza que nasce de The Sun And The Neon Light é uma: o projecto esteticamente sai reforçado por saber desdobrar-se e multiplicar-se em personagens mutantes, ganha envergadura pela intimidade que compartilha. Não é uma característica nova. E bem se espera que não seja a última, porque se há almejo que um artista não deve ignorar é a necessidade de evolução da sua arte para um patamar de entendimento que proporcione uma linguagem própria de autor e especificamente uma escrita coerente com os desígnios interiores. No fundo uma linguagem que revele maturidade nas opções. Por isso mesmo os Booka Shade estão finalmente no bom caminho; ocasionalmente amorfos, mas no bom caminho.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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