DISCOS
Ghost in the Machine
#1
· 15 Jan 2003 · 08:00 ·
Ghost in the Machine
#1
2002
Ghost in the Machine
#1
2002
Surgido do nada, carregado de tudo, transformando o que havia, poluindo o branco da mente, iluminando a noite escura... #1 dos Ghost In The Machine trouxe-me a certeza de que me posso deixar encantar por novos sons criados por portugueses (o que às vezes, confesso, já me era difícil de acreditar!). Gostei do álbum da primeira vez que o ouvi??? Gostei mas não me apaixonei de caras por ele. Deixei-me levar pelo tempo... deixei-me levar pela música.

Tudo aconteceu de forma estranha. Este não é um cd que eu tenha visto na prateleira e o tenha comprado (nem poderia ser porque não estava à venda), tão pouco foi um cd que conheci através de um amigo que o ouvisse ou algo do género. Não. Conheci-o através das pessoas. Não fui eu que o encontrei. Foi o álbum que me encontrou a mim. Comecei por “falar” com um dos membros da banda e só mais tarde ouvi o cd. Ao colocá-lo na aparelhagem para o ouvir deixei-me apenas levar pela contrariedade de sensações que estes temas me provocavam. Logo no primeiro tema “the ghost connection” fiquei com a sensação de que estava na presença de uma boa introdução, uma boa voz e uma boa música, no entanto, confesso que achei que a combinação das três coisas não estava a ser feita da forma perfeita. Quanto mais ouvia esta música mais me apercebia que algo não encaixava... Faltava uma peça. Agora tenho a certeza (meses depois da primeira audição) que não falta lá nada. Faltava apenas a capacidade de me deixar espantar pela novidade que eles traziam ao cenário musical.

Se bem me lembro, depois de ter lido uma entrevista feita aos Ghost in the Machine, aquilo que mais me marcava era o facto deles se considerarem “à margem do sistema”, porque tudo o que criavam a nível musical era como que feito por fantasmas, uma vez que eram eles que editavam as músicas, os video-clips, etc... mas sem a presença de nenhuma editora por trás. Trata-se de um cd lançado em regime de autor.

Eu vejo estes Ghost in the Machine como os espíritos humanos que se apoderam dos meios que têm à frente (a máquina!!!) transformando-os em música. Um baixo orçamento, muitas ideias e acima de tudo muita vontade de realizar um sonho, criaram #1.

Com um segundo álbum já a caminho, esta banda continua a cultivar o conceito do “do it yourself” ou do já conhecido “selfware”, que utilizam não só na criação de álbuns, mas também nas atitudes quanto a concertos, clips, etc.

Procurar uma referência para os Ghost seria difícil, porque são várias as que se apresentam. Senão vejamos o que os próprios dizem “a música é por nós assumida como algo aberto, para a qual contribuem todo o tipo de experiências, que admite todo o tipo de influências… enfim… é o que nos apetecer”.

Partindo para o segundo tema, “all fake”, temos uma reviravolta na sonoridade do álbum. De entre os estilos musicais contidos nesta mixelânia musico-cultural, encontramos “Praise”, um tema de uma beleza muito simples mas que nos leva a imaginar um amor, a distância, a presença na ausência física... uma letra que se sente acompanhada de uma sonoridade (por vezes electrónica) que encanta. Uma perfeita simbiose entre a voz e a música. Quanto a mim um dos melhores temas do álbum.

Seguem-se temas igualmente sedutores (“travelling in warp speed”, “ocean mirror”, “the men who walks alone with a flame of his own”, entre muitos outros). Ritmos que nos fazem sonhar, dançar, amar, gritar, estar calmo e no momento seguinte acordar a rua inteira com uma energia contagiante, relaxar ou simplesmente… ouvir.

Sinta-se do princípio ao fim e aproveite-se cada acorde com uma única certeza – o disco tem vida própria.
Susana Enes

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