DISCOS
Two Banks Of Four
Junkyard Gods
· 16 Mai 2008 · 08:00 ·
Two Banks Of Four
Junkyard Gods
2008
Sonar Kollektiv


Sítios oficiais:
- Two Banks Of Four
- Sonar Kollektiv
Two Banks Of Four
Junkyard Gods
2008
Sonar Kollektiv


Sítios oficiais:
- Two Banks Of Four
- Sonar Kollektiv
Entre a sucateira divina da soul e desformatação do jazz, Demus e Gallagher aprofundam a personalidade sonora, mesmo que para isso não inventem nada de novo.
Não haverá personagens mais conscientes dos versos e reversos que a música dá. Atentos ao tempo e instigadores de linguagens jazz desformatadas, Dill Harris (Demus) e Rob Gallagher (Earl Zinger) cresceram motivados pela necessidade de modernização de velhos paradigmas. Assim se entende boa parte do percurso percorrido desde os dias da Talkin' Loud, e a explosão do acid-jazz, até às actividades transversais nos Two Banks of Four. O sentido de responsabilidade foi-os acompanhando, tal como a urgência da criação das mais variadas estéticas – algumas vistas e revistas pela tecnologia. O traço da citação está presente mesmo no momento da escrita mais inventiva. E não haverá melhor exemplo para demonstrar que os velhos paradigmas não têm vida assegurada para a eternidade que os originais dos 2 Banks of 4.

A necessidade de progredir a todo o custo nem sempre será o conselheiro ideal quando surge a preocupação em recompletar o que no passado ficou por construir na perfeição. Não sendo o mais exemplar exemplo de originalidade, Junkyard Gods não deixará de ser a mais completa amostra do que se pode fazer quando o sonho é mais determinante que a necessidade de erguer novas equações. Ou seja: para quê dar o próximo passo quando o anterior ainda detém substância por explorar. Junkyard Gods não inventa mas mantém segura a essência sonora de um projecto que ainda não se conformou com a apatia de terceiros.

Vergonha seria admitir que todas as opções de City Watching (2000) estariam esgotadas em Three Street Worlds (2003). Ou que a personalidade de um projecto se eclipsaria na mundíce excessiva dos clichés da programação quase automática ou na pragmática das fórmulas do nu-jazz. Sem revolução à vista mas com um aprumado sentido criativo, Junkyard Gods eleva a eloquência narrativa mais um nível e revela a despreocupação e a naturalidade sofisticada do acto criativo desde os minutos iniciais, etéreos e planantes, até ao lento desaguar de luzes de um satélite num qualquer jardim oriental. Ainda não supera a quase-perfeição de City Watching, mas ângulos de racionalidade electrónica, jazz e soul não lhe voltam a faltar. Seguramente quatro em cinco.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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