DISCOS
Tony Scherr
Come Around
· 14 Jan 2003 · 08:00 ·
Tony Scherr
Come Around
2002
Smells Like Records


Sítios oficiais:
- Tony Scherr
- Smells Like Records
Tony Scherr
Come Around
2002
Smells Like Records


Sítios oficiais:
- Tony Scherr
- Smells Like Records
“Come Around manages to build an atmosphere that beautifully evokes the bittersweet lost American dreams and would-be soulful road trips of the Southwest and California, and what's all the more amazing is that Tony Scherr recorded the album in his house.”
Charles Spano


Tony Scherr pode ser um ilustre desconhecido para muita gente, mas podemos encontrar o seu nome em alguns créditos de importantes discos lançados durante a década de 90 e inicio do século XXI. De Norah Jones a Michael Blake, ora no baixo ora na guitarra, Tony Scherr foi construindo o seu caminho quase sempre acompanhado e nunca em nome próprio. Antes da estreia a solo, passou igualmente pelas bandas oriundas de Nova York, Lounge Lizards e Sex Mob. Proveniente do universo do jazz onde fez escola, Tony Scherr é revelado a solo ao mundo em “Come Around” como um excelente songwriter, muito mais distante do avant jazz do que seria de esperar pelo seu historial. Para isso reuniu-se de uma série de importantes e decisivos convidados: o irmão Peter para o baixo, Kenny Wollesen para a bateria e Jane Scarpantoni (Tricky, Beastie Boys, REM) no violoncelo.

O som que este disco tem podia muito bem ser ouvido num qualquer bar fumarento de Nova York em fim de noite. Imaginem alguém com uma guitarra acústica em punho num desses lugares e provavelmente estariam a ver Tony Scherr. A música não vive da guitarra, mas é quase nítido que foi a partir dela que as partituras para “Come Around” foram florescendo. Os temas têm aquele toque low-tempo e lo-fi muito característico desse tipo de som, mas as melhores faixas acabam por ser viradas para uma atitude mais pop que se mostra em faixas indie. Scherr mostra-se como um excelente songwriter e encontramos aqueles temas de travo “clássico-pop” de bandas da década de 60. E é talvez por aí que se vá quando se querem apontar deficiências a este disco: existem poucos elementos que já não tenhamos ouvido noutro lado. Mas como o que aqui é feito é feito com muito mérito, vale sempre a pena ouvir canções como “Stuck It Out” e “What Kind Of Friend Are You”, algumas das melhores presentes no disco.

A voz encontra-se forte e segura (próxima da de Rufus Wainwright) e os músicos impregnam no disco uma pulsação e coesão muito fortes. As músicas contam uma história pessoal que derrama em desastre, que só pode ser redimida com o imenso poder da música. O disco foi gravado em casa e por isso as canções têm aquele toque muito especial de algo que não foi feito primeiramente para chegar às mãos do grande público mas apenas por prazer. A edição por uma editor só aconteceu porque Steve Shelley (da Smells Like Records) teve nas mãos o disco e achou que ele merecia uma edição condigna que pudesse ser ouvida por um número muito maior de público.

Recolhendo influências nos mais variados géneros (do rock ao soul, do country ao indie, do jazz ao blues) Tony Scherr mostra-nos como é possível construirmos temas sob diferentes signos que não os nossos, e que a nossa capacidade de invenção perante o que nos é “menos” conhecido também é muito grande. “Come Around” é um álbum que podia ficar na gaveta mas que felizmente não ficou (a quantos grandes discos já terá acontecido isso?), e podemos hoje desfrutar em toda a plenitude da sua qualidade.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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