Se é verdade que "Tempo dos Ciganos" e "Arizona Dream" (ambos de Emir Kusturica) já tinham tido grandes bandas sonoras, também temos de realçar que "Underground" é a confirmação que faltava para poder colocar Goran Bregovic na lista dos melhores compositores de música especialmente orientada para filmes.

As bandas sonoras são indissociáveis do filme e por isso uma pequena sinopse é importante no modo de contextualizar tudo o que rodeia a música. O filme coloca-nos perante dois amigos que têm em comum pertencerem ao Partido Comunista, operarem em algumas actividades estranhas e gostarem de uma actriz, numa Jugoslávia que deixou de ser um país. A 2ª Guerra Mundial entra em cena e um deles fica com muitas outras pessoas numa cave de protecção, sendo mantidos pelo amigo que ficou no exterior. Entretanto a guerra acaba e eles permanecem na cave julgando que a Guerra ainda está em acção. O companheiro que ficou no exterior faz do amigo um herói, como um símbolo da nação, já falecido. Uma história que apesar de ter um final feliz, ou quase, tem uma carga dramática bastante grande.

A música nos filmes costuma ter um efeito de realçar e acentuar as ideias presentes na película, a música produzida para "Underground" acaba por ter um efeito absolutamente contrário. Acaba por ser um efeito mais de segunda leitura, que soa completamente incoerente com aquilo que se passa.

O álbum tem como base os ambientes tradicionais balcânicos mas acaba por enveredar em algumas música para caminhos mais ligados a espaços contemporâneos. De realçar e aplaudir a presença de Cesaria Evora em "Ausencia". As músicas usam os metais como peça indispensável, algo já comum nos filmes de Kusturica, e dão à obra um certo ar de fanfarra alegre e contagiante, "Ya Ya (Ringe Ringe Raja)", "Mesecina (Moonlight)" e "Cajesukarije Cocek" são bons exemplos. Se por um lado temos estas músicas alegres e radiantes, também temos algumas bastante sentidas, as que se incluem na parte da guerra. Como o próprio nome indica, "War", é exemplo disso.

Esta obra em que, quer Emir Kusturica, quer Goran Bregovic atingem o seu expoente máximo, é um dos mais interessantes documentos de música feita e pensada para cinema.