DISCOS
Tinchy Stryder
Cloud 9 EP
· 07 Mar 2008 · 08:00 ·
Tinchy Stryder
Cloud 9 EP
2008
Ruff Sqwad
Tinchy Stryder
Cloud 9 EP
2008
Ruff Sqwad
Príncipe do grime explora a verdade do "menos é mais".
A eterna luta que sempre se fez sentir entre a quantidade e a qualidade foi desde sempre um dos calcanhares de Aquiles do grime. A aposta em álbuns e mixtapes excessivamente longos, parece ser mais do mera necessidade, um esforço (muito pouco inconsciente) para se revelar produtivo, sem que se proceda ao necessário rastreio qualitativo. Se, numa mixtape (pelas suas próprias características) tal facto pode ser desculpável (embora seja impossível de negligenciar), um álbum nunca se poderá reger pela norma do "quanto mais melhor", sob pena deste mesmo ser sacrificado quer pela falta de paciência, quer pelos inevitáveis momentos menos interessantes que tendem a afundar os grandes temas. Talvez daí, não deixe de ser algo óbvio (embora curioso) que o melhor lançamento de grime de 2007 tenha sido um maravilhoso ep de nome Axiom por Durrty Goodz, e que o primeiro grande disco britânico (dentro e fora do género) de 2008 seja também ele um curta-duração a cargo de Tinchy Stryder.

Cloud 9 conta apenas com nove temas, todos eles decentes, embora seja impossível não destacar quatro ou cinco momentos que tornam pertinente o título de princípe do grime que desde o início se lhe colou. Maniac tem-se vindo a revelar um dos produtores mais estimulantes ao longo dos últimos meses, não sendo surpreendente que das três faixas produzidas por ele, duas delas possam ser mesmo considerados hinos, "Full Effect" e a já conhecida "Sorry U Are" com o petiz Chipmunk convocam as habituais cascatas de sintetizadores sem que estas afoguem o propósito delas mesmas, que é servirem de tapete para o regresso de Tinchy às suas vocalizações mais ácidas, das quais se sentiu falta em Star of the Hood. Antes pelo contrário, parecem ser estas investidas por territórios mais rugosos que o levam a explorar essa urgência vocal que tornou coisas como "Jump" ou "Underground" tão essenciais no desenvolvimento do grime. "Thump" mostra o lado mais vulnerável do mc, investindo no r`n`g de contornos introspectivos que caracterizava grande parte do seu álbum de estreia ("Breakaway", por exemplo), sendo talvez o momento menos conseguido do ep, com a candura a dar lugar a uma certa emotividade algo forçada, ficando alguns furos abaixo do lado mais festivo do género explorado com bons resultados em "Sick in the Head" (produzido por Skepta).

Mas por muitos bons momentos que estivessem para trás, é mesmo o final com "My 95`s" que lhe coloca a coroa sobre a sua cabeça, com uma produção requintada de Rapid sem medo de se atirar à nostalgia característica de um final de noite. Sendo aquilo a que se pode chamar um épico, nunca cede à tentação de olhar para o "passado" com auto-comiseração e choradeira manhosa, optando por descartar arranjos pomposos e balofos por pequenos apontamentos melódicos contidos mas de uma expressividade imensa, conduzindo a voz de Tinchy pela cidade com uma suavidade e elegância pouco vistas no género em questão, arriscando até a dizer que é mesmo capaz de arrancar um sorriso discreto ao adolescente pseudo-deprimido cuja anti-socialização não é mais do que uma chamada de atenção, convenientemente ilustrada nos cadernos escolares entre letras do Billy Corgan e desenhos de lâminas.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

Parceiros