DISCOS
Little Wings
Magic Wand
· 29 Fev 2008 · 08:00 ·
Little Wings
Magic Wand
2008
Ahornfelder


Sítios oficiais:
- Little Wings
- Ahornfelder
Little Wings
Magic Wand
2008
Ahornfelder


Sítios oficiais:
- Little Wings
- Ahornfelder
Breve enquadramento da folk ideal para namorar ajuda a perceber onde se situa este freak-light e os seus altos e baixos.
Compreende-se o que terá levado Francisco Silva tcp Old Jerusalem, em entrevista à revista Mondo Bizarre, a referir Little Green Leaves dos Little Wings como disco que então (Maio de 2005) o conduzira a uma paixão intensa e resultantes escutas sucessivas. São, ao fim e ao cabo, diversas as pistas que concluem Franscisco Silva e Kyle Field (o californiano alado pelas Little Wings) como portadores de uma semelhante sensibilidade folk, embora nem tudo será tão superficial e fácil quanto uma mesma etiqueta estampada na testa de cada um dos songwriters - a folk ainda não se limita apenas ao que uma farfalhuda barba transparece à primeira vista. Mesmo assim, Old Jerusalem e Little Wings preservam, nas entrelinhas dos seus cancioneiros, um fulcral trunfo comum: menos é mais, principalmente quando a guitarra e voz compõem a simplicidade que basta para unir os lábios de duas pessoas.

É tópico fervente aquele que aponte as canções de Old Jerusalem como auxiliares de engate próximos dos que reconheceríamos mais imediatamente a um Marvin Gaye, mas nada me convence a rejeitar The Temple Bell como disco onde é sublime a gestão de um subtexto moderadamente sugestivo que leva a que cada uma das suas badaladas possa ser, com igual desembaraço, um tema para nostálgico piquenique em família ou acompanhamento favorável a uma mais fluida tarde de domingo. O mesmo acontece com superior descaramento no caso de Destroyer (Dan Bejar). Assim sendo, coroe-se com um dourado júbilo toda a produtividade dos praticantes de uma folk que deixa a descoberto os ombros e depois tudo o resto.

Little Wings tem sido bravo operário dessa ramificação da folk, conforme comprovam os cinco álbuns encaixados em quatro anos de lançamentos a cargo da K Records. Ou não fosse a label de Calvin Johnson (e dos seminais Beat Happening) um majestoso palácio que, desde sempre, muito tem feito para que seja mais literal o sentido da expressão indie as fuck, enquanto emblema de discos que servem sobretudo para colorir e diversificar namoros mantidos por jovens mais aventurados (independentemente das opções, sendo a K bem conhecida pela sua expansividade queer). Magic Wand conhecera lançamento original por parte da K Records em 2004 e merece agora reedição por parte da alemã Ahornfelder, que, assim, quebra a regra do registo exclusivamente instrumental mantido até aqui. Sem ser o mais recomendável dos discos conhecidos a Little Wings (o já citado Little Green Leaves condensa uma maior essência em estado bruto), Magic Wand é amplamente exemplificativo dos dotes que Kyle Field pode refinar quando lhe é atribuído um estúdio e a companhia de músicos com o toque de Midas na ponta dos dedos (Phil Elvrum e Khaela Maricich servem como exemplos da realeza K que marca presença por aqui).

De todos, será também o conjunto de canções que apresenta maior porção da transversalidade que descreve Little Wings no seu voo raso sobre a América dos últimos 60 anos: há country para cantar solitariamente em cabine telefónica, lamentos mais efusivos próximos de um John Frusciante mais folk e sem ressaca, canções chamuscadas pela adjacência intimista da fogueira, embora livres do aspecto caricatural que muitas vezes isso implica. Tudo em Magic Wand consolida a ideia de que Kyle Field é realmente um tipo porreiro e um músico abençoado pelo dom de semear despreocupação em quem procura alinhar a sua com a sintonia dele. Calcula-se que o próprio Old Jerusalem concordará com isso.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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