DISCOS
m.b. + e.d.a.
Regolelettroniche
· 26 Fev 2008 · 08:00 ·
m.b. + e.d.a.
Regolelettroniche
2007
Baskaru


Sítios oficiais:
- m.b. + e.d.a.
- Baskaru
m.b. + e.d.a.
Regolelettroniche
2007
Baskaru


Sítios oficiais:
- m.b. + e.d.a.
- Baskaru
De Itália chega-nos um tratado acerca do drone como ciência capaz de mover o oceano sem que os efeitos do processo sejam imediatamente perceptíveis.
Maurizio Bianchi e Emanuela De Angelis, mãos que embalam o denso drone em Regolelettronich, encontram óptimo paralelo em Mestre Yehudi e Walter Rawley, personagens criadas por Paul Auster no seu (incrível) oitavo livro, Mr.Vertigo. Sem revelar demasiado sobre o segredo que torna mais compulsiva a leitura de Mr. Vertigo, diga-se apenas que o perfil de guru charlatão - excepcionalmente capaz de criar ilusões - que caracterizava o Mestre Yehudi, pode ser adaptado à descrição de Maurizio Bianchi, incansável e articuloso druida ao serviço da música experimental italiana que, segundo rezam os registos biográficos, terá já andado metido em sarilhos com Aube - injustiçada sombra de Merzbow no reino do verdadeiro noise japonês - e adoptado termos menos ortodoxos como fachada provocatória para o seu activo artístico. Emanuela De Angelis partilha da pátria do tutor m.b. e, tal como o miúdo Walter Rawley, é ávida de aprendizagem – neste caso, em termos das ciências ocultas do drone (tendo já demonstrado prodigiosos resultados na compilação Sonic Scope 4: The Portable Edition a cargo da portuguesa Grain of Sound).

Apresentados os personagens a ambas as partes do eixo ficcional, saliente-se agora que, onde Mr. Vertigo contava a história de um rapaz que aprende a voar, Regolelettroniche - assinado pelas iniciais do par italiano - regista a conclusão obtida conjuntamente pelo mestre e aprendiz numa tese debruçada sobre a gestão de um oceano de drones, que, dentro do seu ecossistema equilibrado, encontra vaga para a infiltração de alguma exacerbação lírica (como chega a ser a de Burning Star Core quando mais apaixonado pelo ocaso), de um verdejar fungoso - que torna mais imprevisível a dispersão da electrónica adicionada - e, sobretudo, de uma conduta disciplinada que impede os loops engelhados e vagas constantes de galgarem a barreira terrestre (todas as matérias preteridas) que lhes serve de comportas.

Sem diferir dos restantes processos de assimilação, Regolelettroniche repete persistentemente as mesmas bases (de som contínuo em espiral), que, só quando bem firmadas, encaixam adicional progressão - sendo que a gradualidade desta colaboração compete com a de uma lesma na sua travessia pela superfície de uma cana de bambu. Mas a natureza de Regolelettroniche actua assim mesmo - levando-o a respeitar todas as formalidades auto-impostas e insinuadas nos títulos dos seus quatro actos, para, quando manifesta alterações do mais subtil grau, ser mais intenso o fruir das revelações que oferece uma metamorfose circular que só o é em pleno quando acompanhada com obsessiva minúcia. Este é essencialmente um disco conduzido pela fé e como os calcanhares dessa podem ser arranhados a cada vez que o mar e céu se tocam na linha do horizonte.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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