O nome de Han Bennink já figurará nos livros de história da música do século XX, por ter estado presente no nascimento, desenvolvimento e definição da música designada de “livre improvisação europeia”. No mítico álbum “The Topography of the Lungs”, o disco que é considerado consensualmente a primeira pedra do movimento, aquela percussão imprevisível - que complementa o saxophone de Evan Parker e a guitarra de Derek Bailey - pertence ao holandês, que desde então construiu um percurso inimitável na arte de criar texturas, padrões rítmicos incertos e de corresponder a dialogos curiosos.

Neste novo disco, de expressivo título “Zeng!”, o veterano baterista tem a companhia do (comparativamente) jovem guitarrista Terrie Ex. Oriundo do clã The Ex, o grupo que aboliu fronteiras entre punk, world, jazz e improv, o guitarrista apresenta aqui um discurso fragmentado que pode por vezes evocar o original Bailey, ex-parceiro de Bennink, mas que assenta numa rigidez mais marcada. Parceiros com vasta experiência, nesta segunda gravação o duo mostra conhecer-se bem e os diálogos correm com uma fluência invejável.

O factor mais interessante deste disco acaba por ser mesmo Bennink, cujas intervenções são ainda notáveis, originais e poderosas - é surpreendente ver como um velho na idade da reforma é capaz de produzir música com uma energia permanente, como se estivesse a acompanhar as labaredas saxofónicas de Peter Brötzmann ou Evan Parker. Se o grupo The Ex ainda recentemente se tinha feito notar, ao apresentar ao mundo o original saxofonista Getatchew Mekuria, este novo disco aborda outro universo, a improvisação em formato livre num diálogo estruturado e criativo. E dá-nos uma bela notícia: Han Bennink continua em óptima forma.