DISCOS
Robin Guthrie & Harold Budd
After the Night Falls / Before the Day Breaks
· 01 Jan 2008 · 08:00 ·
Robin Guthrie & Harold Budd
After the Night Falls / Before the Day Breaks
2007
Darla Records / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Darla Records
- AnAnAnA
After the Night Falls / Before the Day Breaks
2007
Darla Records / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Darla Records
- AnAnAnA
Robin Guthrie & Harold Budd
After the Night Falls / Before the Day Breaks
2007
Darla Records / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Darla Records
- AnAnAnA
After the Night Falls / Before the Day Breaks
2007
Darla Records / AnAnAnA
Sítios oficiais:
- Darla Records
- AnAnAnA
A noite de acordo com a visão de duas figuras imperantes.
Não é necessário demasiado esforço para compreender as razões que levaram a que fossem recebidos com uma estática indiferença os siameses After the Night Falls e Before the Day Breaks, apesar de ambos formarem um díptico conceptual que oferece continuidade à colaboração entre Harold Budd e Robin Guthrie, intocáveis executantes dos instrumentos que dominam - o piano e a guitarra, respectivamente – e que já haviam frutificado em convívio num The Moon and the Melodies que unia os Cocteau Twins ao pianista celebrizado pelas parcerias com Brian Eno, e na banda-sonora do filme Mysterious Skin, primeira iniciativa exclusiva de Budd e Guthrie que, há cerca de dois anos, delineava as coordenadas ao terreno que se desdobra em novas utilidades no par de lançamentos encarregues à Darla Records. A esses primeiros sintomas de camaradagem estética já se descobria o tal domínio (tecnicamente) personalizado dos instrumentos que, conforme tratou de provar o tempo, tornou os nomes de Budd e Guthrie em adjectivos aplicáveis a abordagens comparáveis por parte de outros músicos que despertaram com a fabulosa série de trabalhos que conheceram a mão dos mesmos no final de 70 e durante a década de 80. Esses tempos áureos dão, agora, lugar a outros mais dados a uma reservada contenção interna.
Com a nitidez que garante o tempo passado sobre o lançamento simultâneo dos discos sobre a mesa, repara-se mais facilmente nos aspectos que desviaram de um alvo mais objectivo as setas disparadas pelo romantismo ambient de ambos: a gritante sensação de que o se colhe à empreitada bipartida não é muito distinguível entre si (muito menos face às colaborações mencionadas) e, logísticamente, o desleixo da Darla Records que bem se podia ter esmerado mais no aspecto gráfico que muito se parece com o de um bootleg apressado. Mais quebradiços se tornam esses pontos quando se descobre que, apesar de, à nascença, terem sido declarados como objectos de valência autónoma, é impossível alienar After the Night Falls e Before the Day Breaks da sua principal vocação: funcionar como um ameno levantamento musical de duas partes que, quando combinadas, permitem que um ciclo active o seu fluxo - como um medalhão Inca que, ao encaixar as suas metades, revela, por entre o seu orifício, todo um elegante e hipnótico panorama nocturno que habitualmente escapa à percepção de quem dorme. A engenhosa imersão a que convida a aproximação entre as partes parece sofrer abrupta interrupção quando não se tem Before the Day Breaks para prolongar a “viagem”.
A “viagem”depende da excelência dos seus pilotos e da capacidade que cada um desses dispõe para controlar o que de mais gasoso possa libertar uma guitarra e um piano que arrastam consigo uma cauda tonal que se associaria à passagem de um cometa. Suspeita-se que a postura actual de Budd e Guthrie se encontre próxima daquela que revelava em entrevista o realizador outsider Robert Altman um pouco antes de ter falecido o ano passado: referia ele que, chegada uma certa idade, passava a observar de longe o mar em vez de se banhar nele. O mesmo se passa com os dois aliados aqui focados - parecem ter desenvolvido uma crença que os leva agora a operar fisicamente os seus instrumentos com a menor carga de zelo possível (o relevo das notas do piano é quase sempre insuficiente à sua distinção), cientes de que muito mais decisiva e crucial à obtenção do sabático e imensurável além nocturno é a subtil moldagem técnica de um caudal sonoro que ascende e descende, na sua rota, sem acusar movimentos bruscos que denunciem a sua lenta migração. Todos os sinais bruscos ficam reservados para as faixas que concluem – em jeito de aterragem ou transição - cada uma das rodelas: “Turn Off the Sun” permite a intrusão de uma bateria que é pura quebra de toda a conduta ambient, enquanto que “Turn On the Moon” encarrega um muito mínimo - quase inaudível - ritmo Casio de anunciar o despertar solar que faz desaparecer Budd e Guthrie da mesma forma que fez desaparecer o Nosferatu de Murnau. Sobra um capítulo curioso – se bem que ligeiramente inconsequente e mal planeado – que, a seu favor, contará sempre com o mérito de assinalar o activo de duas figuras sem as quais teria sido muito mais mundana a produção musical dos últimos 30 anos.
Miguel ArsénioCom a nitidez que garante o tempo passado sobre o lançamento simultâneo dos discos sobre a mesa, repara-se mais facilmente nos aspectos que desviaram de um alvo mais objectivo as setas disparadas pelo romantismo ambient de ambos: a gritante sensação de que o se colhe à empreitada bipartida não é muito distinguível entre si (muito menos face às colaborações mencionadas) e, logísticamente, o desleixo da Darla Records que bem se podia ter esmerado mais no aspecto gráfico que muito se parece com o de um bootleg apressado. Mais quebradiços se tornam esses pontos quando se descobre que, apesar de, à nascença, terem sido declarados como objectos de valência autónoma, é impossível alienar After the Night Falls e Before the Day Breaks da sua principal vocação: funcionar como um ameno levantamento musical de duas partes que, quando combinadas, permitem que um ciclo active o seu fluxo - como um medalhão Inca que, ao encaixar as suas metades, revela, por entre o seu orifício, todo um elegante e hipnótico panorama nocturno que habitualmente escapa à percepção de quem dorme. A engenhosa imersão a que convida a aproximação entre as partes parece sofrer abrupta interrupção quando não se tem Before the Day Breaks para prolongar a “viagem”.
A “viagem”depende da excelência dos seus pilotos e da capacidade que cada um desses dispõe para controlar o que de mais gasoso possa libertar uma guitarra e um piano que arrastam consigo uma cauda tonal que se associaria à passagem de um cometa. Suspeita-se que a postura actual de Budd e Guthrie se encontre próxima daquela que revelava em entrevista o realizador outsider Robert Altman um pouco antes de ter falecido o ano passado: referia ele que, chegada uma certa idade, passava a observar de longe o mar em vez de se banhar nele. O mesmo se passa com os dois aliados aqui focados - parecem ter desenvolvido uma crença que os leva agora a operar fisicamente os seus instrumentos com a menor carga de zelo possível (o relevo das notas do piano é quase sempre insuficiente à sua distinção), cientes de que muito mais decisiva e crucial à obtenção do sabático e imensurável além nocturno é a subtil moldagem técnica de um caudal sonoro que ascende e descende, na sua rota, sem acusar movimentos bruscos que denunciem a sua lenta migração. Todos os sinais bruscos ficam reservados para as faixas que concluem – em jeito de aterragem ou transição - cada uma das rodelas: “Turn Off the Sun” permite a intrusão de uma bateria que é pura quebra de toda a conduta ambient, enquanto que “Turn On the Moon” encarrega um muito mínimo - quase inaudível - ritmo Casio de anunciar o despertar solar que faz desaparecer Budd e Guthrie da mesma forma que fez desaparecer o Nosferatu de Murnau. Sobra um capítulo curioso – se bem que ligeiramente inconsequente e mal planeado – que, a seu favor, contará sempre com o mérito de assinalar o activo de duas figuras sem as quais teria sido muito mais mundana a produção musical dos últimos 30 anos.
migarsenio@yahoo.com
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