DISCOS
Roam The Hello Clouds
Near Misses
· 12 Dez 2007 · 08:00 ·
Promiscuidade entre electrónica e jazz de alto custo mas baixo rendimento.
As cumplicidades establelecidas entre o jazz e a electrónica smpre foram terreno fértil para a criação. Por vezes com resultados brilhantes, os anos 90 foram particularmente reveladores desta cumplicidade, quer seja pela via do enjoo de papel de parede de projectos como os Cinematic Orchestra ou Jazzanova, quer pelo cérebro de músculo rock de Chicago, como os Chicago Underground nas suas múltiplas encarnações. Também essenciais nesta equação são os álbuns lançads pela ECM de Evan Parker com o seu Electro-Acoustic Ensemble, reconfigurando a acusticidade dos seus instrumentos pelo uso discreto mas essencial da eléctronica, onde o silêncio se torna tão fulcral como a som que parece dele advir. Por volta da mesma altura também Nils Peter Molvaer abraçava a electrónica em Khmer também editado pela ECM, com resultados não tão satisfatórios, acabando (também neste ponto) por servir de referência para Near Misses do trio Roam The Hello Clouds.
Editado pela outrora visionária ~Scape de Stefan Betke (Pole), Near Misses acaba por ser demonstrativo do estado algo soporÃfero a que a editora se vetou, incidindo sempre no mofo do glitch/dub que se tornou sua imagem de marca, sem o sentido de risco e experimentação que eram caracterÃsticos de álbuns como Loop Finding Jazz Records de Jan Jelinek ou Nek Sanalet de Kit Clayton. Tudo isto para dizer que estamos perante a presença de um bonito papel de parede, felizmente agreste o suficiente para não se deixar afundar em açúcar passÃvel de causar diabetes, tratando-se de uma aposta bem mais credÃvel do que as brincadeiras lounge que tanto pululam por aÃ. Tem também o bom senso de evitar as escorregadelas estéreis que sabotam as experiências de Chicago, principalmente devido ao som quente que emana do trompete de Phil Slater (reminiscente de Miles Davis circa Bitches Brew), por oposição aos sons frios e minúsculos que a electónica deixa transparecer. São essencialmente os sons do trompete e da bateria textural de Laurence Pike posteriormente transformados via laptop pelas mãos de Dave Miller, que adicionam essa carga mais cerebral e (supostamente) abstracta à música que os aproxima do tÃpico som ~Scape.
O duo assenta essencialmente num jazz (nos melhores momentos a tender para o free) de caracterÃsticas mais contemplativas e nunca perdendo o seu requinte melódico, com o terceiro vértice emaranhando-se subtilmente no som, recontextualizando-o sem que se torne intrusivo. A entrada tensa com "Phases" ou a suspensão nocturna de "Death and Possible Dreams" conseguem atingir belÃssimos resultados no seu serpentear constante, nunca se detendo no tédio. Como contraponto, algo como "Pretender's Hand" e a sua aproximação corriqueira a Tortoise ou uma inconsequente "Supply" não deixam de ser pouco mais do que banda sonora de jantar ou acompanhamento de leitura. A fechar "This Mountain" traz à cabeça os Supersilent, pelo que o trio poderia começar a escutar o silêncio antes de o deixar desvanecer.
Bruno SilvaEditado pela outrora visionária ~Scape de Stefan Betke (Pole), Near Misses acaba por ser demonstrativo do estado algo soporÃfero a que a editora se vetou, incidindo sempre no mofo do glitch/dub que se tornou sua imagem de marca, sem o sentido de risco e experimentação que eram caracterÃsticos de álbuns como Loop Finding Jazz Records de Jan Jelinek ou Nek Sanalet de Kit Clayton. Tudo isto para dizer que estamos perante a presença de um bonito papel de parede, felizmente agreste o suficiente para não se deixar afundar em açúcar passÃvel de causar diabetes, tratando-se de uma aposta bem mais credÃvel do que as brincadeiras lounge que tanto pululam por aÃ. Tem também o bom senso de evitar as escorregadelas estéreis que sabotam as experiências de Chicago, principalmente devido ao som quente que emana do trompete de Phil Slater (reminiscente de Miles Davis circa Bitches Brew), por oposição aos sons frios e minúsculos que a electónica deixa transparecer. São essencialmente os sons do trompete e da bateria textural de Laurence Pike posteriormente transformados via laptop pelas mãos de Dave Miller, que adicionam essa carga mais cerebral e (supostamente) abstracta à música que os aproxima do tÃpico som ~Scape.
O duo assenta essencialmente num jazz (nos melhores momentos a tender para o free) de caracterÃsticas mais contemplativas e nunca perdendo o seu requinte melódico, com o terceiro vértice emaranhando-se subtilmente no som, recontextualizando-o sem que se torne intrusivo. A entrada tensa com "Phases" ou a suspensão nocturna de "Death and Possible Dreams" conseguem atingir belÃssimos resultados no seu serpentear constante, nunca se detendo no tédio. Como contraponto, algo como "Pretender's Hand" e a sua aproximação corriqueira a Tortoise ou uma inconsequente "Supply" não deixam de ser pouco mais do que banda sonora de jantar ou acompanhamento de leitura. A fechar "This Mountain" traz à cabeça os Supersilent, pelo que o trio poderia começar a escutar o silêncio antes de o deixar desvanecer.
celasdeathsquad@gmail.com
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