DISCOS
Yair Etziony
Flawed
· 11 Dez 2007 · 08:00 ·
Yair Etziony
Flawed
2007
Spekk


Sítios oficiais:
- Yair Etziony
- Spekk
Yair Etziony
Flawed
2007
Spekk


Sítios oficiais:
- Yair Etziony
- Spekk
Braço-de-ferro espicaçado entre dub digital e formigueiro glitch oferece uma brisa do que se vai fazendo por Telavive.
Falta às vezes à electrónica mais cerebral fabricar rivalidades entre os seus principais agentes para cativar maior fatia de atenção a quem anda demasiado distraído com outras movimentações. Sem chegar a ser probabilidade que mereça cotação na bolsa de apostas dos mais improváveis acontecimentos para 2008 (um óptimo novo disco de Cocorosie lidera essa tabela), pode-se sempre acreditar que o patrão da especializada Raster Noton, Carsten Nicolai, surgirá um dia numa entrevista à revista Wire a declarar ameaçadoramente que estão condenados os ossos de grande parte dos presentes no catálogo da Staubgold. Se o sangue assombrasse de facto a estabilidade aparentemente pacata de uma electrónica – e periféricos - desprovida de rostos, podia até ser que mais gente reparasse que pelo catálogo da germânica Staubgold têm passado dignos embaixadores do panorama nacional (vide Rafael Toral e David Maranha e Patrícia Machás nos Organ Eye).

Todo o optimismo somado ao subpovoado quarteirão onde me encontro aponta para que, por altura de 2025, já existam temíveis barões que, em representação das qualidades da electrónica minimalista, possam vir para a grande praça bradar “bocas” que rebaixem a falta de imaginação constatável ao glitch de um determinado álbum que era a grande aposta da outra casa envolvida no feudo. Yair Etziony, de nacionalidade israelita e provavelmente familiarizado com a sensação de conflito, terá de aguardar mais dezassete anos até marcar presença no dia que o possa ter como um potencial herói.

Sem que essa posição privilegiada dite a sua estreia em nome próprio, Flawed, como um objecto adiantado em relação ao seu tempo. Nem por sombras, reconheça-se. Yair Etziony pode, de acordo com a digressão que efectua por aqui, ser, ainda assim, estimado pela eficaz síntese de formas que convida ao mesmo tipo de dormência que afecta o quase clássico Zauberberg do produtor berlinense Gas: um interminável rol de delay balsâmico cede espaço ao dub digital do tema-título “Flawed” (a fazer lembrar Deadbeat) e a outras tantas tácticas de sedução entre constantes sine-waves amigáveis e um glitch que conhece bem a discreta porção que deve ocupar (normalmente a mais sujeita à desintegração subliminar).

O ponto mais afiado do surgimento de Yair Etziony em cena incide – logo no título do disco - na admissão do falhanço como prática e fundamento a partir do qual se erguem inúmeras torres de electrónica que, de outra forma, seriam mais polidas e banais. A gravidade forçosamente errante de Flawed propaga-se em réplicas de tremor de terra que, através da acção facilitada a um glitch-térmita, contraria o aspecto imaculado de nove momentos que podiam facilmente ter sobrevivido como filhos de um orgulho dub manifestado por um laptop demasiado seguro de si mesmo. Yair Etziony exerce uma retaliação que procura ofender um protocolo fácil e, com isso, obtém uma patente que o declara bem preparado para as batalhas que o esperam em 2025.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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