As comparações em catadupa representam uma tentação odiável. Isto porque, sem se colar a ninguém em particular, Vert entorna aqui os seus feijões por todo o tipo de fórmulas práticas que associaríamos a gente mais ou menos digna (em ordem decrescente): Tom Waits pelas formas de desempoeirar o ragtime, Kahn pela humor de cabaret empregue à electrónica mais debochada, The Streets pela avalanche verbal própria de desbocado dandy rufia, Dan Deacon e Girl Talk, ou outro mago do mash-up que o site Pitchforkmedia se decida a escravizar até à exaustão entretanto. O próprio rosto do gentleman britânico exilado na Alemanha, Adam Butler (o Sr. Vert), tal como surgido no disco aqui invocado, parece-se com o de Moby fotocopiado através de uma Xerox.

Pinga por aqui gota grossa descoberta à chuva que atende às prezes do mais famoso refrão das Weather Girls. Vert, seguro da sua condição de esponja super-humana, soma a natureza de excêntrico à vocação de entertainer, e até aproveitou o furto de que foi alvo o seu estúdio para renovar totalmente o espólio estético em Some Beans & An Octopus. O disco que conclui uma série de três gravados para a Sonig aponta realmente para aquele que pode ser o segundo acto de uma carreira que até aqui se movimentava por terrenos mais cerebrais do que propriamente predispostos a proporcionar um gozo quase físico. Quem até aqui chegar através do muito mais subtil Nine Types of Ambiguity, terá de vir preparado para a ideia de que Some Beans é disco balanceado para o ataque na sua sucessão de atropelamentos conspirados por instrumentos bem palpáveis, montados digitalmente como num relógio Flik Flak desregulado, e pela voz incessante de Adam Butler (que, às vezes, até chega a chatear).

Gastronomicamente falando, toda a gente sabe que a feijoada de polvo é um daqueles pratos a que nem sempre se adquire o gosto nas primeiras tentativas. Embora vários tiros ao lado o impeçam de atingir a euforia que procura como Graal, Some Beans & An Octopus tem dois ou três tentáculos suficientemente longos, em termos de garantias lúdicas, para que sejam atingidos alguns nervos e activada a rendição parcial e esporádica ao charme de Vert (que se atreve mesmo a música nupcial da Turquia!). Antes que se escapula o momento, é dar ao dente.