DISCOS
Akitsa
Goetie
· 27 Set 2007 · 08:00 ·
Akitsa
Goetie
2007
Hospital Productions


Sítios oficiais:
- Hospital Productions
Akitsa
Goetie
2007
Hospital Productions


Sítios oficiais:
- Hospital Productions
Merecida reedição de um dos nomes mais fortes do metal da actualidade.
Inexplicavelmente, as reedições de Sang Nordique e (especialmente) Goetie do (então) duo canadiano Akitsa, têm-se elevado acima de grande parte da produção black metal deste ano, isto porque muito dificilmente encontro argumentos válidos para sustentar o facto de Goetie ter sido, muito possivelmente, o álbum que mais vezes ouvi ao longo deste ano, ainda para mais num ano bastante forte para o género. Afinal de contas, grande parte do meu fascínio para com o black metal mais recente tem sido derivado da experimentação que grupos como Spektr, Blut Aus Nord ou Leviathan têm levado a cabo no extravasar de barreiras de um género que durante grande parte da década de 90 se conformou à sombra das suas histórias de assassinatos e outras eventualidades macabras muito pouco musicais. Não é propriamente este o caso de Goetie, que longe da insanidade de UTD de Furze ou da desconstrução de Screech Owl dos compatriotas Wold, (só para citar dois belos exemplos de black metal de 2007), se insinua, apesar de uma aparente simplicidade, como um dos testemunhos mais válidos da importância do black metal neste século, não só dentro do metal, mas também em géneros como o industrial, drone ou noise (vide Wolf Eyes, Sunn 0))) ou Yellow Swans).

Editado originalmente em 2001 (dando ainda maior relevância ao anteriormente escrito), e reeditado já este ano pela Hospital Productions de Dominick Fernow (Prurient), Goetie tem gerado algum burburinho não só no movimento metaleiro (essencialmente americano), mas principalmente em sites ou publicações mais viradas para música experimental como a Volcanic Tongue ou a Aquarius. Confesso admirador do metal mais extremo, Dominick Fernow em entrevista ao site Pitchforkmedia na coluna "Show no Mercy" em Novembro do ano passado, disse: "Akitsa é uma dos meus projectos favoritos desde á bastante tempo, por perfeccionarem a emoção crua, o desespero e a raiva do black metal". Esta afirmação acaba por resumir (quase na perfeição) a essência que leva Goetie a soar tão perfeito, no entanto, e apesar de se cingirem ao formato bateria e guitarra a la Darkthrone, o duo subtilmente incorpora no seu som influências que vão muito além do black metal, seja através das combustões via spacemen 3 de "Sound of Confusion" na hipnótica "Les Opposants Bruleront", ou dos riffs de inspiração rock’n’roll (que fariam Jack White corar de inveja) de "Revanche". Alicerçando-se essencialmente algures entre o som sujo do black metal do início da década de 90 e nalgum crust-punk dos anos 80, que lhes tem valido algumas comparações à obra de Ildjarn, acresce sobretudo em Goetie um certo lado dronesco que os impede de cair na unidimensionalidade que contamina muito black metal, patente principalmente na faixa de abertura "Ouverture de L`espirit" onde, sobre um rendilhado de guitarra repetitivo se estende uma voz suave de tendências quase xamânicas, num todo que consegue incrivelmente soar a uma versão black metal dos low.

Mais um daqueles álbuns cujo público alvo pode ir muito além dos típicos ouvintes de metal, Goetie contém nas suas 10 faixas argumentos mais do que suficientes para agradar tanto a adeptos do punk mais rude dos anos 80 como a fetichistas noise, numa clara mostra de um género que muito se tem reinventado nos últimos cinco anos e que parece hoje (finalmente) ter ganho a notoriedade devida, por razões bem mais musicais do que aquelas que puseram o género nas bocas do mundo na década passada.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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