Não se sabe se tem ligações com o livro de Daniel Marcus com o mesmo nome, mas Those are pearls that were his eyes é o espaço onde Charles Cohen e Ed Wilcox se encontram, uma casa “emprestada� pela Ruby Red, um selo ligado aos lisboetas Loosers. Encontram-se com sintetizadores e percussão – como acontece com Kieran Hebden e Steve Reid em Exchange Session - e encontram aí um óptimo lugar para experimentações. O segundo tema mostra imediatamente como este é um local feliz de encontro para Charles Cohen e Ed Wilcox, um local de prolífico.

Há toda uma estranheza em Those Are Pearls That Were His Eyes que se vai revelando cada vez mais excitante. Nesse mesmo segundo tema vagueiam sons riquíssimos e pouco terrestres, tornados ainda mais aprazíveis pela percussão esparsa de Ed Wilcox. O crescendo do disco toma efeitos em termos de volume e dimensão com o terceiro tema, exploração ainda menos terrestre e cada vez mais intensa. A pureza do som permite absorver todo o e cada ruído que possa não estar programado. As explorações de Charles Cohen e Ed Wilcox são, neste ponto do disco vertiginosas e perigosos (elogio). E com o seguimento do disco essa sensação vai aumentando, acalmando aqui e ali em certos momentos.

Se a limpidez da gravação permite ver os ruídos inesperados, permite também perceber a qualidade da percussão de Ed Wilcox, inesgotável ao multiplicar-se em pormenores, em criar uma base que se torna quase auto-suficiente. E apesar dos meios escolhidos por Charles Cohen e Ed Wilcox para construírem estas 10 explorações, nunca se instala a sensação que algo possa estar a faltar. É um disco de paisagens rudes, é certo, mas bastante recompensador no seu conteúdo e no seu desenvolvimento – quase 50 minutos de improvisação. Those Are Pearls That Were His Eyes pode ser uma pequena pérola aos olhos de alguns.