DISCOS
Shitmat
Grooverider
· 07 Set 2007 · 08:00 ·
Shitmat
Grooverider
2007
Planet Mu


Sítios oficiais:
- Shitmat
- Planet Mu
Shitmat
Grooverider
2007
Planet Mu


Sítios oficiais:
- Shitmat
- Planet Mu
Ladrão que rouba ladrão faz do breakbeat incendiário o seu método de profusão.
Nesse campeonato interno de Bodyspace, em que se procuram frisar os encantos ao corpo feminino paralelamente à música que produzem, a naturalidade formosa da moça exposta na entrevista com Hecuba, a cargo do colega André, conhece contraponto abusadamente artificial nas gémeas que sobressaem à capa de Grooverider. Essas que, em toda a glória da definição gráfica usada aqui pela casa, apontam Shitmat como um mecenas da electrónica de dupla copa D, um apologista da intervenção de bisturi em mãos, alguém que, com a falta de seriedade de um bufão, soube, mesmo assim, conduzir o mais irrequieto drum n’ bass desde o seu ponto nostálgico jungle até a uma modernidade desenfreada que se conhece por breakcore (e que prolifera na label britânica Planet Mu). Grooverider é mais um daqueles atentados à estabilidade cardíaca que mais vigoroso se parece pelos samples usados do que propriamente pela avalanche de breaks dobrados.

A ameaça Shitmat continua a ser tão debochada quanto ácida na sua profanação de todo o tipo de santuários pop imediatamente reconhecíveis. Depois de ter sido “All that she wants” dos Ace Base a ir à tosquia na infernal barbearia ragga que era o mais limitado Killababylonkutz (em 1994), Grooverider magnetiza até ao turbilhão da sua Londres estilhaçada porções estratégicas de “I can’t stand the rain” de Tina Turner, “Toxic” afamado por Britney Spears (concentrando, aqui, no ventre as batidas de “Zagreb”) e “All Falls Down”, pertença do produtor e MC metrosexual Kanye West (que vê a voz da sua dama Laury Hill servir como instrumento de descontracção entre a sova de breaks de - repare-se no descaramento - "All Falls Down").

Todos esses são vitimados na razia de samples não-licensiados (?) à moda libertina de Paul’s Boutique dos Beastie Boys, que fora lançado numa época (1989) em que a adulteração dos sons originais ainda ludibriava os detentores de direitos discográficos (do legado dos Beatles, Led Zeppelin, etc.). Nessa pilhagem brutalmente bárbara, Grooverider assegura que é tão perigoso e avesso à lei como promete a postura de proxeneta do breakbeat que assume Shitmat, desde que se promove como figura de destaque na Planet Mu e, consequentemente, no âmbito do breakcore orgulhosamente transgénico. Quase tão transgénico e desproporcional quanto o tamanho dos seios que passam, a partir de agora, a ser medida titânica a superar aqui no barraco.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
RELACIONADO / Shitmat