DISCOS
Zelub
Through the Eyes of a Dream
· 05 Set 2007 · 08:00 ·
Zelub
Through the Eyes of a Dream
2007
Friendly Virus
Sítios oficiais:
- Zelub
- Friendly Virus
Through the Eyes of a Dream
2007
Friendly Virus
Sítios oficiais:
- Zelub
- Friendly Virus
Zelub
Through the Eyes of a Dream
2007
Friendly Virus
Sítios oficiais:
- Zelub
- Friendly Virus
Through the Eyes of a Dream
2007
Friendly Virus
Sítios oficiais:
- Zelub
- Friendly Virus
Álbum de estreia de projecto português devoto ao shoegaze marca também a estreia de nova editora.
Um pouco por todo o lado, os ecos do shoegazing da década de 90 e em particular o legado dos My Bloody Valentine (que parece que se vão reunir) ainda se fazem sentir com bastante incidência. Pese embora o facto de grande parte dos shoegazers "originais" ingleses terem caído no esquecimento, a influência do género tem-se desdobrado muito para além do conceito de dream-pop a que era originalmente votado, sendo a faceta mais textural ou etérea que tem perdurado por oposição às canções delicodoces que grande parte dos meninos de olhos no chão e cabeça nas estrelas faziam questão de esconder por detrás da distorção. Desde a electrónica mais ou menos abstracta, ao post-rock mais sonhador são inúmeros os casos onde a descendência é mais ou menos directa, a título de exemplo recorro à minha própria referência ao catálogo da editora Type na review a His/Hers" de Zelienople.
Through the Eyes of a Dream, o álbum de estreia do projecto de Miguel Negrão com o nome de Zelub, deve grande parte da sua inspiração à memória desta herança, assentado essencialmente em dois pontos referenciais do género, de um lado temos o space-rock de características sonhadoras (que caracteriza uns Surface of Eceon) relativamente escorreito, braço dado com faixas de cariz mais ambiental e textural numa linguagem drone tão enfática no minimalismo de La Monte Young (menos expansivo) como nas nuvens dos Stars of the Lid, acabando, curiosamente por trazerem à memória as paisagens dos subvalorizados Flying Saucer Attack. Nunca almejando a cenários épicos (elogio) nem a grandes crescendos ou surpresas, estas duas dimensões entrelaçam-se naturalmente, dando ao álbum uma fluidez, que se lhe confere uma coerência salutar, pode também levar a um certo entorpecimento.
Sem que se privilegie o lado "rock" em detrimento do "drone" (não rementendo este para interlúdios), acaba por ser este último a conseguir melhores resultados pela maneira como se descola mais facilmente de referências e atinge momentos meditativos de maior beleza. "When Love Meant Something (Although I Can`t Remember)" abre o álbum delineando melodias ao entardecer, guitarras em delay e bateria escorreita sem que o cérebro abandone a terra e subsistindo a tranquilidade de um pôr do sol laranja. Numa toada similar (que é aliás recorrente), "What is Reality?" aponta para as estrelas na procura de novos estados mentais como o musicaram os Bardo Pond nos seus momentos mais plácidos, mas sem atingir a desejada alienação, ou seja, mais erva e menos LSD. Contrapondo estes momentos supostamente mais explosivos, encontram-se os drones apaziguadores de "Mandala" ou uma bonita "The Badly Tuned Guitar" que felizmente nunca se acomoda e tranquilamente se transporta para ambientes aquáticos nunca estáticos. "Through the eyes of a dream" concilia os dois planos, acabando por se concluir que a textura sai a ganhar, quando ao fim de dois minutos de um nevoeiro reconfortante à la Tim Hecker se abraça um space rock tipificado sem resultados memoráveis.
Ao longo das suas 11 faixas instrumentais, Through the Eyes of a Dream, mostra-nos um projecto que não merece ser votado à indiferença, numa estreia, que não atingindo resultados extraordinários, consegue momentos bastante interessantes e aos quais os deserdados de cabelo nos olhos darão certamente o selo de aprovação. Bastante importante é também o facto deste lançamento marcar a estreia nas edições do colectivo Friendly Virus, sediado em Lisboa, e que funciona como mais uma plataforma criada por artistas de várias áreas dispostos a arriscar a auto-edição como forma a promoverem o seu trabalho. Parece-me louvável.
Bruno SilvaThrough the Eyes of a Dream, o álbum de estreia do projecto de Miguel Negrão com o nome de Zelub, deve grande parte da sua inspiração à memória desta herança, assentado essencialmente em dois pontos referenciais do género, de um lado temos o space-rock de características sonhadoras (que caracteriza uns Surface of Eceon) relativamente escorreito, braço dado com faixas de cariz mais ambiental e textural numa linguagem drone tão enfática no minimalismo de La Monte Young (menos expansivo) como nas nuvens dos Stars of the Lid, acabando, curiosamente por trazerem à memória as paisagens dos subvalorizados Flying Saucer Attack. Nunca almejando a cenários épicos (elogio) nem a grandes crescendos ou surpresas, estas duas dimensões entrelaçam-se naturalmente, dando ao álbum uma fluidez, que se lhe confere uma coerência salutar, pode também levar a um certo entorpecimento.
Sem que se privilegie o lado "rock" em detrimento do "drone" (não rementendo este para interlúdios), acaba por ser este último a conseguir melhores resultados pela maneira como se descola mais facilmente de referências e atinge momentos meditativos de maior beleza. "When Love Meant Something (Although I Can`t Remember)" abre o álbum delineando melodias ao entardecer, guitarras em delay e bateria escorreita sem que o cérebro abandone a terra e subsistindo a tranquilidade de um pôr do sol laranja. Numa toada similar (que é aliás recorrente), "What is Reality?" aponta para as estrelas na procura de novos estados mentais como o musicaram os Bardo Pond nos seus momentos mais plácidos, mas sem atingir a desejada alienação, ou seja, mais erva e menos LSD. Contrapondo estes momentos supostamente mais explosivos, encontram-se os drones apaziguadores de "Mandala" ou uma bonita "The Badly Tuned Guitar" que felizmente nunca se acomoda e tranquilamente se transporta para ambientes aquáticos nunca estáticos. "Through the eyes of a dream" concilia os dois planos, acabando por se concluir que a textura sai a ganhar, quando ao fim de dois minutos de um nevoeiro reconfortante à la Tim Hecker se abraça um space rock tipificado sem resultados memoráveis.
Ao longo das suas 11 faixas instrumentais, Through the Eyes of a Dream, mostra-nos um projecto que não merece ser votado à indiferença, numa estreia, que não atingindo resultados extraordinários, consegue momentos bastante interessantes e aos quais os deserdados de cabelo nos olhos darão certamente o selo de aprovação. Bastante importante é também o facto deste lançamento marcar a estreia nas edições do colectivo Friendly Virus, sediado em Lisboa, e que funciona como mais uma plataforma criada por artistas de várias áreas dispostos a arriscar a auto-edição como forma a promoverem o seu trabalho. Parece-me louvável.
celasdeathsquad@gmail.com
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