DISCOS
Githead
Art Pop
· 26 Jul 2007 · 08:00 ·
Githead
Art Pop
2007
Swim ~ / Cargo / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Githead
- Swim ~
- Cargo
- AnAnAnA
Githead
Art Pop
2007
Swim ~ / Cargo / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Githead
- Swim ~
- Cargo
- AnAnAnA
O ex-Wire Colin Newman e comparsas escolhidos a dedo falham na concepção de uma amálgama pop oca de novidade.
Atendendo ao papel de peso que exerceu enquanto parte de uns Wire que anteciparam inventivamente grande parte do pós-punk, Colin Newman é um daqueles nomes de respeito que dispõe de karma artístico para queimar se for essa a sua intenção. Não se utiliza indiscriminadamente o nome a alguém que ocupou transversalmente a composição de clássicos visionários como Pink Flag e Chairs Missing. As formalidades respeitosas cessam, assim que se dá conta do envolvimento de Colin Newman nuns Githead que surgiram com o pretexto de celebrar o décimo aniversário da label Swim ~ (dedicada a electrónicas várias) e que, a partir daí, se vieram assumindo como um projecto cada vez mais sério e calibrado para formar carreira. O preferível seria o activo dos Githead ter-se ficado pela ocasião em que sopraram as dez velas, já que Art Pop constitui rude golpe desferido na reputação dos envolvidos e um daqueles objectos onde alguma centelha estética não chega para camuflar por completo a clamorosa falta de conteúdo.

Acrescente-se a isso que a desilusão imposta pelo segundo disco dos Githead avoluma-se em conformidade com a presença de outros músicos não menos respeitados: Malka Spigel e Max Franken dos Minimal Compact (exportação israelita apadrinhada por Colin Newman) e Robin Rimbaud, também admirado pela produtividade que mantém com o aliás Scanner. Todos esses deviam saber que só se escolhe um título tão pretensioso (e Warholiano) quanto Art Pop quando é imune e poderoso o arsenal que esse classifica. Estamos, porém, longe disso e, vezes demasiadas, eminentemente perto do descartável. À excepção das faixas em que o shoegaze surge recheado de pop (a solarenga “These Days” serve de exemplo), Art Pop demonstra uma dificuldade enorme em articular duas roldanas – a da harmonia e veia experimental - que possam surtir um encadeamento minimamente memorável. Com isso, sobra espaço para o inútil e fracassado: “Lifeloops” chega a ser kitsch na sua maré de sintetizadores, “Jet Ear Game” é sofrível na sua fome de afirmação futurista (com direito a vocoder), “Space Life” torna amnésicos os Depeche Mode sem resultados assinaláveis.

Parecem convencidos os músicos reunidos aqui de que é de suficiente interesse um álbum dedicado a reminiscências e a outros caprichos, que, de tão improváveis, só podem ter partido do mesmo útero que em tempos gerou pós-punk histórico. Dir-se-ia sobre Art Pop que chega a ser mais histriónico que propriamente histórico. Não há como negar o carácter grotesco a uma medonha “Drive By” que tresanda a pós-punk fardado com braçadeira provocadora e cujo sublinhar dos esganiçados rights também satura em pouco tempo. Mediante tal descalabro, o melhor será, daqui em diante, ler da frente para trás os currículos dos nomes aglomerados nestes Githead.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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