DISCOS
Stereo Total
Paris-Berlim
· 05 Jul 2007 · 08:00 ·
Stereo Total
Paris-Berlim
2007
Disko B / Flur


Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Disko B
- Flur
Stereo Total
Paris-Berlim
2007
Disko B / Flur


Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Disko B
- Flur
Nova fornada de aventuras cumpridas, com a habilidade e descomprometimento de sempre, por instituição europeia da pop cosmopolita.

Após cometidos dois dos pecados mais sintomáticos de revivalismo (o disco de remisturas Discotheque e a compilação selectiva de material gravado para a primeira casa Bungalow), os Stereo Total regressam em força sem nunca terem desaparecido por completo nos últimos quinze anos. Com eles, um Paris-Berlim que define o eixo geográfico a partir do qual se lançam Françoise Cactus e Brezel Göring em busca da aglutinação de quase tudo o que mexa e revele um mínimo colorido kitsch no horizonte praticamente infinito da pop de propriedades mais cosmopolitas.

A premissa que determina o sucesso de Paris-Berlim é tão reincidente quanto inevitavelmente eficaz: o tradicional disco de Stereo Total funciona em qualquer parte do mundo como descomprometida banda-sonora para momentos de assumido capricho, devassidão e revolta feminina que não descarte a ocasião de confronto como oportunidade ideal para a diversão. Além de que Paris-Berlim tem o seu passaporte musical carimbado por todo o tipo estranhezas que cativam estima imediata: “Plastic” é pop fm saudavelmente descartável, “Patty Hearst” uma homenagem histérica dedicada à infame princesa-terrorista e “Relax Baby Cool” um rockabilly minimalista reaproveitado ao cancioneiro de Serge Gainsbourg (que desesperaria pelo charme lollipop de Françoise Cactus como por uma Whitney Houston desarmada da língua francesa num talk-show).

Não há, contudo, forma de desviar o coração da mira que aponta à voz insinuante de dilema lascivo, peculiaridade de marca de uma Françoise Cactus que se parece muito com a sex-symbol brasileira Juliana Paes na foto que serve de fachada a Paris-Berlim. É da sua pertença a voz que se adequa a este açucarado carrossel internacional como uma miúda feia ao público desse ritual jurássico habitualmente apelidado de tourada. Françoise canta como quem dirige intrigadas questões sobre sexualidade àquele sábio da série animada Era uma vez a vida cuja barba branca cobria praticamente todo o corpo excepto um nariz com uma forma bem suspeita. Do mesmo modo subversivamente ingénuo, Paris-Berlim continua a interrogar a pop (e a anexa chanson) acerca da sua capacidade enquanto material reciclável, também passível de reaproveitamentos que simulem exemplarmente alguma autenticidade. Ao que parece, os Stereo Total continuam a ser superiores nessa arte.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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