DISCOS
Kalabrese
Rumpelzirkus
· 20 Jun 2007 · 08:00 ·
Kalabrese
Rumpelzirkus
2007
Stattmusik


Sítios oficiais:
- Stattmusik
Kalabrese
Rumpelzirkus
2007
Stattmusik


Sítios oficiais:
- Stattmusik
A renovação da house não terá sido a prioridade deste suíço, mas que a diversidade pop deu-lhe segurança criativa, disso não há dúvidas.
Ainda há quem, por entre contos de fadas para crianças e o circo artístico, procure uma nova realidade que permita a reabilitação de uma música até agora perdida nos meandros de um minimalismo desprovido de sentido ou perdido no seu próprio labirinto estético. Não que o techno ou house andem arredados por completo de novas existências, mas quem ainda insiste na exploração de estruturas esqueléticas – com poucas possibilidades de se manterem firmes pelo próprio pé – escapa-lhe a possibilidade de mutação de tipologias que – especialmente durante a primeira metade dos anos 90 – sempre se adaptaram ao caldeirão da música popular, transformando-se e adaptando-se. Motivando o universo pop, tanto o house como o techno, granjearam o lento respeito de quem ainda suspeitava dos conceitos rave e tudo a ela associado.

É raro entender, por completo, as transformações a que a música se sujeita para agradar aos seus criativos mais intransigentes. E por vezes será necessário a felicidade andar por perto para a essência submersa emergir e a revelar ao mundo as ideias que tardavam a chegar aos olhos da humanidade melómana. Mas o tempo é essencial para se perceber a conjectura e encontrar explicações pertinentes.

Por agora ainda será prematuro afirmar-se que o problema encontrou a solvência desejada. Ou que Kalabrese deu o primeiro e mais seguro passo até agora. Mas é garantido que novos sopros de criatividade têm transformado a paisagem despida e esquelética em campos férteis, arejados e sequiosos de novas sementes.

Já por aí foi dito que o suíço Kalabrese – Sascha Winkler, o seu verdadeiro nome –, e o seu álbum de estreia Rumpelzirkus, ganha essencialmente pela diversidade a que sujeita a música house. É verdade. Talvez também seja verdade que desde Bodily Functions de Herbert que não se ouvia tamanha capacidade de sincretismo e especulação em torno de velhas técnicas de composição de canções. Ou mesmo que o sentido de originalidade seja recuperado por um olhar sério e transversal pela música pop sem nunca tirar a ideia do micro-house. Certo é que Rumpelzirkus é a verdadeira concretização de uma house branca e arredada da velha matriz soul e que por entre a manipulação da matéria-prima pop, exprime-se como à muito o não fazia.

Um sonho infantil pode abrir espaço a uma arena onde os sons vagueiam à sua vontade. Mas quando soa o apito final, todos esses sons sabem ocupar o lugar correcto no tempo e espaço. Rumpelzirkus não será certamente o facto estético pelo qual todos almejamos, mas a aparente inocência a que nos sujeitamos num disco – talvez excessivamente longo – que tanto alude à nostalgia dos tempos mais pop de uns Underworld, os dias mais carismáticos de Herbert ou à melancolia de David Sylvian e abraça simultaneamente, de forma coerente, a gramática da música destes últimos tempos, já serão motivos de sobra para escutar todos estes deliciosos malabarismos.

Uma vez mais é a diversidade que nos assalta. É um empilhamento de várias referências – entre elas a folk – num único trapézio que, baloiçando obliquamente, sabe equilibrar com habilidade diversas estéticas sem nunca perder o centro gravitacional. E não fosse a longa extensão de todo alinhamento o único defeito, teríamos em mãos uma obra-prima que revelaria ao mundo um novo paradigma house. Por agora renova-se o gosto pelos sons de Chicago com a inteligente habilidade de um artista que, corajosamente, se lançou pelo ar sem a corda do pragmatismo.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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